quinta-feira, 5 de maio de 2016

Um choque de verdade sobre as crises e o uso dos bancos públicos pelo lulismo - Jarbas de Holanda

No Palácio do Planalto, em meio ao preparo do último encontro “oficial” com militantes esquerdistas na quinta-feira 12 (dia seguinte da decisão do Senado de seu afastamento), a ainda presidente Dilma vai enchendo seu saco de bondades e assinando decretos e MPs com medidas de agravamento da crise fiscal. Uma das quais, para ampliar em R$ 100 milhões as verbas para publicidade, felizmente bloqueada por liminar do ministro do STF, Gilmar Mendes. E, no último domingo, deslocando-se para o ato de 1º de maio da CUT em São Paulo, para o ensaio final da “guerra popular” contra o “governo golpista e reacionário” de Michel Temer, por parte dos “movimentos sociais” aliciados pelo PT e financiados com recursos públicos, felizmente prestes a esgotar-se. Ensaio em que ela, bem como os demais oradores, magicamente transferiram para o próximo governo toda a responsabilidade pela crise econômica que sufoca o país e por seus dramáticos efeitos sociais. Ignorando por inteiro os mais de 11 milhões de desempregados, o fechamento de milhares de empresas de todos os portes, o salto da inadimplência para além dos 60 milhões de consumidores e tomadores de empréstimo, os cortes de recursos para programas prioritários das áreas de saúde e educação, os vultosos prejuízos dos fundos de pensão – algumas, apenas parte, das “realizações” dos governos petistas. A serem agora, também felizmente, interrompidos pelas instituições democráticas que a eles resistiram, pela liberdade de imprensa, pela grande maioria da sociedade, inclusive nas ruas, contrapondo-se ao projeto de poder populista e autoritário de transformação progressiva do Brasil numa Venezuela chavista.

A alternativa, institucionalmente viável e necessariamente rápida a esse projeto, é o governo de transição do peemedebista Michel Temer. Cujo partido, sob a orientação das correntes a ele ligadas, passou a buscar o fim da aliança com Lula a partir da primeira campanha decididamente antipetista promovida pelo PSDB em 2014, que teve de ser barrada pelo grosseiro estelionato eleitoral da vitória de Dilma Rousseff. Virada da percepção social sobre gestões petistas forte e decisivamente influenciada pela operação Lava-Jato. E entre as ações político-administrativas iniciais desse governo – para ganhar credibilidade no conjunto da população, no contexto da persistência das graves crises econômica e das contas públicas, e diante das ameaças de sabotagem e de “convulsão social” preparadas pelo lulopetismo – duas são certamente relevantes. Primeira – um diagnóstico preciso da extensão e da profundidade atingidas por essas crises (indispensável para a compreensão e o acolhimento pela maioria da sociedade das duras medidas necessárias ao enfrentamento delas). Segunda e igualmente urgente – um levantamento amplo dos desvios e emprego irregular de vultosíssimos recursos públicos pelos bancos estatais, como o BNDES e a Caixa Econômica que, completamente aparelhados, constituíram peça-chave do lulismo e de sua sucessora na montagem e no financiamento do PT e de suas campanhas eleitorais.

Levantamento que, antecipando-se e/ou completando investigações da operação Lava-Jato, e paralelas, alargará muito o conhecimento da opinião pública sobre os enormes danos econômicos e sociais gerados por negócios escusos e irracionais, no Brasil e no exterior. E vai ensejar também, com a rapidez devida, a identificação dos seus mandantes e operadores. O que colocará na defensiva, e às portas de investigação, prisão e condenação, grande parte, senão todos, os articuladores da “convulsão social” que está sendo montada para “infernizar” (expressão do próprio Lula), e se possível inviabilizar, o novo governo. Cabendo avaliar que o desencadeamento de tal ação pressupõe um governo Temer em que aos peemedebistas se somem, com poder de decisão, lideranças e quadros de peso vinculados aos partidos da oposição ao petismo.

As ações de ontem do procurador-geral Rodrigo Janot – a denúncia de Lula como chefe da “organização criminosa” do petrolão e pela obstrução da Justiça com a tentativa de compra do silencio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, seguida do pedido de investigação da presidente Dilma pela prática, também, de delitos para barragem da operação Lava-Jato, ambos os atos incluindo ministros dos governos petistas, de Antonio Palocci e Erenice Guerra a Jacques Wagner e José Eduardo Cardozo – essas ações elevam a patamar ainda mais alto a erosão política e social do PT e de sua principal ou restante liderança. E reduzem a praticamente zero a possibilidade de uma decisão final do Senado, daqui a alguns meses, que reverta o afastamento inicial da presidente Dilma, na próxima semana. Bem como debilitam a “guerra popular” dos “movimentos sociais” esquerdistas contra o “golpe do impeachment”.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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