Por Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou "indignado" e "muito irritado" com a denúncia oferecida contra ele ao Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, bem como com a inclusão de seu nome como investigado no inquérito relativo à Operação Lava-Jato. Sobre a iminente derrota do governo no julgamento do impeachment, ele tem afirmado a aliados que "não existe cair de pé".
Ontem, o ex-ministro Gilberto Carvalho acusou o PMDB de "tramar o golpe" desde o início de 2015 e convidou os movimentos sociais a descerem a rampa ao lado de Dilma na próxima semana, quando ela deve ser afastada pelo Senado Federal.
Segundo petistas ouvidos pelo Valor e que se encontraram com Lula nesses últimos dias, o que mais deixa o ex-presidente contrariado em relação à denúncia de Janot é a tentativa de aplicar a ele a teoria do "domínio do fato". A teoria, que responsabiliza a autoridade hierarquicamente superior pelas práticas de atos ilícitos dos subordinados, foi adotada pelo STF no julgamento do mensalão.
Lula também tem se irritado com as sugestões de aliados sobre como o governo pode deixar o palácio "de cabeça erguida". O ex-presidente avalia que só é possível cair sentado ou deitado. Aliados sugeriram a Dilma que desça a rampa acompanhada de ministros e movimentos sociais, com postura firme.
Na denúncia oferecida ao Supremo, que é um aditamento à ação penal contra o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), Janot diz que constatou que Lula, "José Carlos Bumlai e Maurício Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves". Eles negam o envolvimento com irregularidades.
Ontem, em evento no Palácio do Planalto de balanço sobre os programas sociais, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carvalho acusou o PMDB de tramar o "golpe" contra Dilma e o PT desde janeiro de 2015. Afirmou que um governo com o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) não tem como dar certo.
"Nós estamos a uma semana da presidente descer a rampa", disse Carvalho, que hoje é presidente do Conselho Nacional do Sesi. Ele convidou os presentes, coordenadores e beneficiários de programas sociais do governo, a descer a rampa junto com Dilma. Fontes do Planalto dizem que Lula deverá estar presente no ato, previsto para 12 de maio, mas acompanhará a solenidade do meio da multidão.
"Temos que ter clareza que o outro lado não tramou essa história agora, isso vem desde janeiro de 2015", acusou. "Na verdade esse golpe é um sonho desde 2003", disse Carvalho. "Eles estiveram conosco quando interessava. Quando lucraram muito, quando se locupletaram inclusive. Porque a maioria dos caras que fizeram o que foi feito, que nos acusam, não são dos nossos partidos", reforçou.
Carvalho alertou que, "junto com o golpe, vem uma pauta regressiva, também dos direitos sociais". "A curto prazo eu não acredito porque vão ter que fazer muita média, porque daqui a pouco começa. Ou alguém acredita que um governo com Geddel Vieira Lima e com Romero Jucá vai dar alguma coisa de bom para este país?", provocou.
Segundo o ex-ministro, "todo mundo sabe que nós não estamos saindo pela corrupção". Ele disse que os governos do PT tiveram a "coragem de fazer funcionar os órgãos de Estado que combateram a corrupção".
Para Carvalho, o PT está deixando o governo "exatamente pelas escolhas certas que fizemos do ponto de vista do jogo de classe, da distribuição da renda". Ele concluiu dizendo que Dilma "não pode ser acusada de um tostão de corrupção" e "está tendo seu mandato cassado legitimamente conquistado pelo voto". Ele instou a população a continuar lutando nas ruas. "É por isso que essa indignação e essa consciência não nos podem deixar voltar pra casa na semana que vem", concluiu.
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