• A ideia de que o lulopetismo agiu de forma organizada no mensalão e no petrolão volta com a nova denúncia de Janot, que coloca o ex-presidente no mesmo grupo
Nove anos depois de o procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza denunciar José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do presidente Lula, como “chefe da organização criminosa” do mensalão, um sucessor de Antônio Fernando na PGR, Rodrigo Janot, inclui na “organização criminosa” do petrolão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em denúncia encaminhada na terça-feira ao Supremo.
Naquele momento em que mensaleiros foram encaminhados ao STF para julgamento, houve extremo cuidado com o líder Lula, ainda na Presidência e em elevada e crescente conta junto ao eleitorado. A oposição preferiu aguardar a desidratação política dele, para ganhar as eleições de 2006. Não deu certo.
De Antônio Fernando de Souza a Rodrigo Janot muita coisa aconteceu, até se chegar a este ponto em que mensalão e petrolão parecem ser obras da mesma “organização criminosa”. Afinal, já se sabe que os dois esquemas de desvio de dinheiro público para financiar o projeto de poder lulopetista transcorreram de forma simultânea. Enquanto mensaleiros desfalcavam dinheiro dos cofres do Banco do Brasil, o grupo do petrolão garimpava no bilionário filão dos contratos da Petrobras com empreiteiras, sendo que o esquema se estendeu ao setor elétrico. Um personagem comum aos dois golpes é José Dirceu.
Cabe ao Ministério Público, como sempre, provar as acusações. No caso de Lula, a de atuar na manobra de tentativa de compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, conforme relato do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) na sua colaboração premiada à Lava-Jato. O caso, agora, é parte do principal inquérito da operação, no qual estão incluídos, entre outros, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli; o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto; o assessor especial de Dilma, Giles de Azevedo; José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo de Lula etc. O ex-presidente ainda é denunciado pelo MP paulista de ocultar patrimônio com a mal explicada história do sítio em Atibaia e o tríplex em Guarujá.
Com esta última relação de denúncias feitas pela PGR ao Supremo, a presidente Dilma deixará de se arvorar uma pessoa acima de qualquer suspeita, porque foram pedidas investigações sobre sua possível tentativa de obstruir o trabalho da Lava-Jato, com a suposta nomeação de um ministro para o STJ em troca da aceitação de pedidos de habeas corpus de empreiteiros. Outra denúncia de Delcídio. Não tem qualquer relação com o processo de impeachment, mas não ajuda Dilma nas votações no Senado.
Na fase de recursos ao julgamento do mensalão, a Corte, com nova composição, desmontou a ideia de que havia a tal “organização”, e portanto livrou o ex-ministro da denúncia de tê-la chefiado.
No fim, restou um ato criminoso bem organizado, sem haver uma organização, tampouco chefia. A questão retorna agora à agenda do Supremo. Ele tem chance de voltar atrás.
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