• Ministros e cúpula do PT admitem nos bastidores que dificilmente presidente retornará ao Planalto após 180 dias
Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Ministros do PT e a cúpula do partido avaliam que, após ser afastada do cargo, a presidente Dilma Rousseff dificilmente retornará ao Palácio do Planalto. O diagnóstico sombrio também já foi feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a própria Dilma, mas, em público, todos tentam demonstrar disposição para um movimento de resistência, no Palácio da Alvorada.
Dilma, Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, e ministros mais próximos jantaram na quarta, 4, no Alvorada para traçar a reação ao impeachment. Ficou definido ali que, após o Senado aprovar a saída da presidente - hipótese dada como certa pelos petistas -, ela descerá a rampa ao lado de ministros e de representantes de movimentos sociais.
A ideia é fazer uma homenagem a Dilma na despedida. Dentro e fora do Planalto, na Praça dos Três Poderes, haverá apoiadores do PT, que há 13 anos está no poder.
O governo calcula que o desagravo ocorra no dia 13, quarenta e oito horas após a votação do impeachment no plenário do Senado. Treze é o número do PT.
“Estamos a uma semana de a presidente descer a rampa. E vamos descer a rampa junto com ela”, disse Gilberto Carvalho, braço direito de Lula durante oito anos e ex-ministro de Dilma, em cerimônia no Planalto. “É um momento duro. Não vamos nos enganar”, emendou ele, ao fazer duras críticas ao PMDB do vice Michel Temer.
Situada a sete quilômetros do Planalto, a residência oficial do Alvorada deve virar a sede de uma espécie de “governo paralelo” por até 180 dias, prazo para o julgamento final no Senado. A intenção de Dilma é levar com ela de dez a 15 auxiliares, conforme o que for estabelecido em decreto pelo Senado, e a equipe será comandada pelo assessor especial da Presidência, Giles Azevedo. Nessa lista estão a presidente da Caixa Econômica Federal, Miriam Belchior, e o chefe da Advocacia Geral da União, José Eduardo Cardozo.
No duelo contra Temer, além da ofensiva para defender o seu mandato em várias frentes - em viagens domésticas e até no exterior -, Dilma quer que a equipe deixe pronto um portfólio de todos os programas executados por seu governo, desde 2014.
O que mais preocupa o PT, porém, não é Dilma, mas, sim, Lula. A denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para quem o esquema de corrupção na Petrobrás “jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de forma tão agressiva” sem a atuação do ex-presidente, atingiu em cheio o maior símbolo do partido.
Até agora, mesmo perdendo capital político após virar alvo da Lava Jato, Lula ainda é o único nome com densidade eleitoral no PT para ser candidato da legenda à sucessão de Dilma, em 2018. O temor do PT é que ele seja preso.
Janot também pediu ao Supremo Tribunal Federal para investigar Dilma, sob suspeita de obstruir a Lava Jato, e o núcleo duro do governo, incluindo na lista Cardozo, Jaques Wagner (Gabinete Pessoal), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva (Comunicação).
Vazamento. Após lançar o Plano Safra 2016/2017, Dilma disse que Cardozo vai solicitar ao STF a apuração do vazamento de inquérito sigiloso contra ela e acusou o senador Delcídio Amaral, ex-líder do governo, de fazer denúncias “levianas e mentirosas”. Para ela, o vazamento ocorreu “estranhamente” às vésperas do seu julgamento no Senado. “Lamento que, mais uma vez, algo muito grave tenha acontecido”, disse Dilma, sem esconder a irritação. “Você vaza, depois se caracteriza que nada há e o dano já foi feito.” / Colaborou Carla Araújo
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