Ao tentar fechar acordo de delação, Mônica Moura, mulher do marqueteiro do PT João Santana, disse aos investigadores da Lava-Jato que o casal recebeu pagamentos do empresário Eike Batista no exterior, por serviços em campanhas políticas.
Mulher de João Santana diz que Eike fez pagamentos no exterior
• Revelação foi feita por Mônica Moura em tentativa de acordo de delação
Thiago Herdy - O Globo
-SÃO PAULO- O empresário Eike Batista fez pagamentos para o casal João Santana e Mônica Moura, em contas do casal no exterior, segundo relato da mulher do marqueteiro do PT a procuradores, durante tentativa de fechar acordo de delação premiada. Os pagamentos estariam vinculados a campanhas políticas realizadas pelo casal, mas ela não esclareceu se os pagamentos são referentes a trabalhos realizados no Brasil ou no exterior.
As empresas do casal Santana prestaram serviços na campanha à reeleição de Lula, em 2006, e nas disputas vencidas por Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, além de campanhas municipais da legenda. Nas três eleições, eles receberam, em contas oficiais, cerca de R$ 110 milhões. O marqueteiro também atuou em Venezuela, Angola, República Dominicana e Panamá, mas não há registro de atividades das empresas de Eike nestes países que justificassem o apoio eleitoral por baixo dos panos.
Por meio do advogado Sérgio Bermudes, Eike informou que não se manifestaria sobre as declarações de Mônica.
A revelação dos dados da conta usada pelo empresário para realizar pagamentos no exterior pode levar o Ministério Público Federal (MPF) a desvendar operações de Eike no exterior durante períodos de bonança, a exemplo do que ocorreu com a construtora Odebrecht. Foi a confissão de recebimento de valores da empreiteira no exterior, por parte de exdiretores da Petrobras, que levaram a polícia a desvendar uma rede de offshores montada pela empreiteira para pagar propina a agentes públicos fora do Brasil. Autoridades suíças participam desta investigação, cujos resultados foram, até agora, parcialmente divulgados.
Em 2013, a “Folha de S. Paulo" revelou que a OGX, uma empresa do grupo de Eike, transferiu US$ 40 milhões para a conta de uma firma de Hong Kong a título de comissão por intermediação na instalação de plataforma de petróleo que nunca ocorreu. Na época, a OGX negou irregularidades e alegou que se tratava de contrato de risco.
Na Lava-Jato, Eike foi acusado por Fernando Soares, o Fernando Baiano, de pagar R$ 1,5 milhão ao pecuarista José Carlos Bumlai para que ele defendesse os interesses da empresa junto à Sete Brasil — estatal criada para contratar sondas do présal. Em depoimentos, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o ex-dirigente da Engevix Gerson Almada relataram a proximidade entre Eike e Baiano. Na CPI do BNDES, Eike negou que o lobista prestasse serviços para suas empresas.
O delator e ex-gerente da área internacional da Petrobras, Eduardo Musa, disse à força-tarefa que a OSX pagou propina ao PMDB na licitação das plataformas P-67 e P-70, mas não soube informar se Eike sabia dos pagamentos.
Apoio do BNDES
No governo Lula, empresas do grupo EBX obtiveram do BNDES autorização para empréstimo ou aquisição de ativos que somaram R$ 10,4 bilhões, dos quais R$ 6 bilhões foram efetivamente liberados, de acordo com o banco. Depois de ser considerado o sétimo homem mais rico do mundo em 2012 pela revista “Forbes”, o empresário viu suas companhias entrarem em colapso a partir de 2013 e foi obrigado a ceder o controle das empresas a bancos. Hoje é réu em três processos de crimes contra o mercado financeiro, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, além de 22 processos administrativos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Desde o início da tentativa de fechar acordo com a Lava-Jato, Mônica contou aos procuradores que os ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palloci intermediavam o pagamento de caixa 2, em dinheiro, para campanhas presidenciais do PT junto a empresários. São recursos que não passaram por contas oficiais do PT, por isso não teriam sido declarados à Justiça Eleitoral.
Ela também citou pagamentos feito por empresas a fornecedores de campanha, outra modalidade de caixa 2. Os procuradores têm resistido a aceitar a proposta de acordo, por considerar que Moura teria mais para relatar do que o apresentado até agora.
No início do mês, ela e João Santana foram denunciados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por pagamentos feitos por fornecedores da Petrobras aos dois, no Brasil e no exterior. Eles seguem presos preventivamente no Paraná e negam que soubessem da origem de recursos recebidos como pagamento por serviços prestados nas campanhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário