Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Em conversas com interlocutores ontem no Palácio do Planalto, o presidente interino Michel Temer considerou "mirabolante" a história contada ao Ministério Público Federal (MPF) pelo ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. A opinião de Temer é que Machado procurou puxar "um peixe grande" para seu termo de colaboração com as autoridades, a fim de valorizar a delação. O presidente interino também disse que não se lembra de ter conversado com Machado sobre doações para a campanha de Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo, nas eleições de 2012.
A delação de Machado, feita nos dias 4, 5 e 6 de maio - quando já era certo que a presidente Dilma Rousseff seria afastada -,joga Temer no tsunami da Lava-Jato no momento em que seu governo procura consolidar a maioria no Congresso, avança nas propostas de reformas econômicas e prepara uma estratégia de comunicação para melhorar sua imagem perante a opinião pública, que está sendo traçada pelas agências encarregadas da publicidade oficial. A delação é objetiva e devastadora em relação a caciques do PMDB e ruim para Temer mas não o suficiente para barrar o avanço do impeachment ou comprometer o governo.
No radar do Palácio do Planalto agora entrou a possibilidade de uma eventual delação premiada do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Câmara. Não se vê motivo para Cunha envolver o presidente na colaboração que estaria cogitando fazer, mas a percepção comum é que o deputado carioca é imprevisível - quase nunca faz o que se espera que ele faça.
Em nota oficial, Temer disse que era "absolutamente inverídica a versão de que teria solicitado recursos ilícitos" para Sérgio Machado, pessoa com a qual mantinha, segundo o texto, uma relação "apenas formal e sem nenhuma proximidade". A nota diz que Temer "jamais permitiu arrecadação fora dos ditames da lei, seja para si, para o partido e muito menos para outros candidatos que, eventualmente, apoiou em disputas".
Machado disse ao MPF que, nos 11 anos em que presidiu a Transpetro, distribuiu cerca de R$ 100 milhões ao PMDB. Ele relacionou os valores - em espécie ou doação oficial - destinados a caciques pemedebistas como Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, José Sarney (AP), Jader Barbalho (PA) e Edison Lobão (MA). Discriminou inclusive parcelas. Mas Temer não aparece como beneficiário de dinheiro.
Temer, segundo Machado, teria pedido uma contribuição de R$ 1,5 milhão para a campanha de Chalita a prefeito de São Paulo, nas eleições de 2012, em uma conversa que os dois tiveram na base aérea. O ex-senador Machado deduziu que Temer sabia da origem ilícita dos recursos, pois isso era de domínio da classe política.
Nas conversas que manteve ao longo do dia, após ser liberada a delação premiada de Machado, o presidente interino afirmou que lembrava-se de ter se encontrado com o ex-presidente da Transpetro no prédio da vice-presidência e no Palácio do Jaburu, mas nenhuma na base aérea. Seus auxiliares estão rastreando. Mas Temer diz lembrar muito bem que nunca tratou de doação para Chalita com Sérgio Machado.
O presidente e seus auxiliares ressaltam dois aspectos. O primeiro é que não faz muito sentido a afirmação de que Temer pediu recursos cuja origem sabia ilícita para declará-los oficialmente. E muito menos pediria doação a Sérgio Machado, um aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros, seu mais feroz adversário dentro do PMDB.
Em 2012 Temer e Renan já estavam às turras. Renan tentava estabelecer uma interlocução direta com o Palácio do Planalto, sem passar instâncias do PMDB, que era presidido por Temer. Pouco antes, numa articulação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também tentou tirar Temer da presidência do PMDB e colocar em seu lugar o ex-ministro Nelson Jobim. Em março último Renan tentou outra vez mudar o comando do PMDB, também sem sucesso.
Também citada por Machado, a intervenção que Temer fez na presidência do senador Valdir Raupp (RO) no PMDB, na campanha de 2014, foi pública. Um grupo de deputados reclamou ao vice-presidente, que estava licenciado da presidência do partido, que Raupp dera exclusividade para os senadores na distribuição de uma doação de campanha. Sabe-se agora, por Sérgio Machado, que a doação era da JBS, no valor de R$ 40 milhões.
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