quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ações na economia e confirmação do impeachment. Eleição municipal e sequência da Lava-Jato - Jarbas de Holanda

A paradeira generalizada das atividades produtivas, com a decorrente escalada do desemprego. E o descalabro fiscal do populismo assistencialista, com seus graves e múltiplos efeitos nas três esferas do poder público. A responsabilidade da presidente Dilma, bem como a completa incapacidade dela e do seu partido de dar respostas a esses dois problemas foram os fatores decisivos para a afirmação da alternativa do processo de impeachment e a mola propulsora das vultosas manifestações de rua contra a corrupção e o desgoverno (Fora PT - Fora Dilma). 

Tem a mesma natureza a expectativa favorável ao presidente Temer em face do apoio às ações iniciais e às propostas de sua qualificada equipe econômica. Sentimentos predominantes, mesmo em meio às incertezas políticas, na maioria da sociedade, no conjunto do empresariado, na mídia e nos círculos político-partidários. Ações e propostas, como as do controle dos gastos públicos por meio da fixação de um teto que, aplicado para valer, passará a conter e reverter a sufocante crise fiscal recebida dos governos petistas. Articuladas com mudanças substanciais no comando e nos objetivos do BNDES, da Petrobras, do Banco Central, na política externa, nos processos de concessão de obras e serviços públicos, que vão recuperando a confiança dos investidores, internos e externos, e as perspectivas de retomada do crescimento.


Sentimentos que favorecem, também, a confirmação pelo plenário do Senado do impedimento da presidente afastada – pela expectativa da viabilização de tais propostas e mudanças, e pelo receio de completa frustração delas com um resultado contrário. Receio acentuado, ainda mais, pela antecipação feita por Dilma – no esforço para dar uma sobrevida à sua campanha de volta ao cargo, acolhendo por inteiro as demandas dos “movimentos sociais” ultraesquerdistas – de que, barrado o impeachment, retomará a desastrada política econômica do primeiro governo. “Corajosa” tomada de posição, misturada com a demanda de “eleição presidencial já” por meio de um plebiscito, que ela calcula contribuir para desgastar o governo Temer e para a reversão final do processo de impeachment. Perspectivas das quais o ex-presidente Lula adota apenas os ingredientes com potencial de desestabilização do novo governo, pois avalia como praticamente certa a confirmação do impeachment e sabe ser institucionalmente inviável a “eleição já”.

Assim, o que temos mesmo à frente, no plano especificamente político, são as eleições municipais de outubro. A serem travadas num contexto em que podem ser identificadas as variáveis e condicionantes que seguem. A sequência das investigações da Lava-Jato e paralelas. A nova política econômica (os resultados que já terá, ou não, para a queda do desemprego e a melhora do poder de compra) e o grau de reações sociais às medidas de controle dos gastos públicos e contra as propostas de reformas, como a da Previdência. 

As restrições ao financiamento das campanhas eleitorais. O julgamento das administrações dos governadores e sobretudo prefeitos. E o nível de desgaste, ou desmanche, do lulopetismo. As investigações da Lava-Jato afetarão principalmente o PT e o PMDB, mas também o PSDB e todos os demais partidos. Dentre os efeitos delas no PMDB cabe a previsão de que possam atingir, mais gravemente que até agora, o governo Temer, se envolverem diretamente o presidente. O qual reduziu esse risco ao começar a livrar-se do correligionário mais incômodo, Eduardo Cunha, com a decisão de ontem, do Conselho de Ética da Câmara de aprovar a cassação do seu mandato. Cabendo agora avaliar que implicações isso terá para a manutenção, ou perda, da ampla maioria do novo governo nesta casa do Congresso. 

Quanto ao PSDB, o pleito municipal propiciará o julgamento pelo eleitorado do papel assumido de destacado participante do governo Temer e da gestão dos administradores municipais vinculados à legenda. E, ainda, de outro julgamento da sociedade: o das denúncias de envolvimento nas investigações de várias de suas lideranças, inclusive o presidente Aécio Neves. De cuja confirmação, ou desqualificação legal, havendo tempo suficiente para isso, dependerá a escolha de uma delas para a disputa presidencial de 2018.

Quanto ao PT, para a contenção dos enormes desgastes com o desastrado governo Dilma e com o protagonismo no petrolão, o núcleo dirigente terá como centro tático a exploração das resistências (sobretudo corporativas) ao ajuste das contas públicas e às medidas de reforma do Estado e da economia. Tática encaminhada através de dissimulação do partido atrás de uma “frente popular” com os “movimentos sociais” ultraesquerdistas. A implementação dessa tática (de defesa da sobrevivência do PT) constituirá a segunda prioridade do ex-presidente Lula. Pois a primeira tem relação com o juiz Sérgio Moro. Que foi objeto de artigo do jornalista Josias de Souza, ontem no UOL, intitulado “Lula desce ao inferno da ‘República de Curitiba’”.
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Jarbas de Holanda é jornalista

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