- Folha de S. Paulo
Em meio à gritaria contra e a favor do impeachment, uma voz tem se destacado pela moderação no Senado. É a voz mansa de Cristovam Buarque, do PPS do Distrito Federal. Em maio, ele votou pela abertura do processo contra Dilma Rousseff. Agora se diz indeciso sobre o julgamento final da presidente.
O ex-ministro da Educação afirma estar "entre duas alternativas muito ruins". "Destituir uma presidente eleita no meio do mandato é ruim demais. Mas trazer de volta uma presidente que já mostrou tanto despreparo também é", diz ele.
O senador investe na dialética para despistar quem tenta adivinhar o seu voto. "Do ponto de vista da pedagogia democrática, a presidente deveria ficar, para o eleitor aprender e não errar outra vez", sustenta. "Do ponto de vista patriótico, nós temos que substituir o presidente por um governante mais competente."
Ficou claro? Nem tanto. "Foi o patriotismo que inspirou os militares no golpe de 1964", prossegue Cristovam, que foi perseguido pela ditadura e precisou se exilar no exterior.
Eleito em aliança com o PT, o senador virou alvo de protestos desde que votou a favor do afastamento provisório de Dilma. Na Universidade de Brasília, estudantes montaram uma urna para "desvotar" nele. "Já me acostumei a ser chamado de golpista na rua", conta. "Mas uma coisa é dizer que precisa haver o julgamento, outra é condenar o réu."
O ex-ministro reclama da disputa de claques na comissão do impeachment. "Se todo mundo já tem posição definida, estamos gastando dinheiro público à toa", critica. Ele diz sonhar com uma nova eleição geral, mas admite que isso não vai ocorrer. "Na verdade, todo o sistema político merece um impeachment", afirma.
A indecisão levou Cristovam a ser cortejado por Dilma e Michel Temer. Nas últimas semanas, ele se reuniu a sós com a presidente afastada e com o presidente interino. "Os dois foram agradáveis, mas não me ajudaram muito a decidir", desconversa.
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