• Foco tem sido parlamentares que cogitam votar pela permanência de Dilma
Cristiane Jungblut - O Globo
- BRASÍLIA - O presidente interino, Michel Temer, tem encontrado senadores, que serão os responsáveis pela votação final do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, em cafés, almoços e jantares, que costumam ser marcados fora da agenda oficial. Na lista dos que já estiveram recentemente com Temer estão os indecisos Cristovam Buarque (PPS-DF) e o líder do PDT no Senado, Acir Gurgacz (RO), que foi relator das contas de 2014 da presidente Dilma na Comissão Mista de Orçamento e deu parecer favorável à aprovação, apesar da avaliação contrária do Tribunal de Contas da União (TCU).
Ambos votaram pela abertura do processo de impeachment, que levou ao afastamento temporário de Dilma no mês passado, mas agora dizem que analisam o que fazer. Embora estimem ter 58 ou 59 votos, ministros políticos afirmam que a atuação do presidente interino ocorrerá até a votação final.
Cristovam almoçou com Temer há alguns dias e disse que a conversa durou cerca de duas horas. Mas o senador afirmou que a questão do impeachment não foi tratada diretamente. A iniciativa do encontro foi de Temer, que vem telefonando pessoalmente para os senadores para marcar as conversas. Dias depois, Cristovam esteve com Dilma, no Alvorada. Ele disse que foi a primeira vez que falou sozinho com a petista. Nos bastidores, aliados de Temer dizem que os senadores indecisos vêm tentando ampliar sua importância no processo.
Nas conversas, que têm ocorrido no Palácio do Jaburu, Temer procura falar da importância de fazer mudanças na economia e em aprovar propostas importantes na Câmara e no Senado. A avaliação no governo é que o impeachment está consolidado, mas que é preciso manter o diálogo com cada senador.
— Ele me chamou e claro que aceitei. Disse a ele que precisa fazer duas coisas: dizer quem vai pagar a conta do ajuste e dar uma cara ao governo que contemple os excluídos. Ele não tocou no assunto (de meu voto). Mas quero deixar claro que não vou apenas votar, vou julgar. É o voto mais importante que vou dar aqui, no Senado, o único que em 20, 30 anos se lembrarão. E estamos entre tirar uma presidente eleita por milhões de votos ou fazê-la voltar sem condições de governar — disse Cristovam, que admite estar sendo cobrado por eleitores sobre sua indefinição.
Cristovam destacou que esteve com Dilma dias depois e falaram de literatura e da crise da esquerda.
— Nunca tinha estado sozinho com Dilma.
Mas esses encontros no Alvorada provam que não é golpe (o que está ocorrendo). Não há golpe se a presidente está no Palácio da Alvorada e recebendo senadores. E o café estava quentinho — disse Cristovam, sorrindo
O empenho em manter o diálogo com o Congresso surpreendeu muitos parlamentares. O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), por exemplo, destacou a delicadeza de Temer ao lhe telefonar para cumprimentá-lo pelo aniversário. Os dois haviam se encontrado em reunião de trabalho antes, mas Temer não tocara no assunto e telefonou ao saber da data.
Gurgacz jantou com presidente interino
O senador Acir Gurgacz, por sua vez, foi convidado para um jantar com Temer no Jaburu. Ele garante que o presidente interino não perguntou seu voto, embora publicamente o senador já tenha afirmado estar indeciso. Gurgacz esteve com Dilma antes de vistar Temer.
— Ele me telefonou. Seria indelicado não ir. E não quero que saiam falando que tem acordo ou não, porque estive com os dois e não indico ninguém para cargos. Temer demonstrou confiança em seu governo, queda na taxa de juros. Sempre digo que, se todo mundo tiver o pensamento feito, o que estamos fazendo no Senado é um grande teatro. E não concordo com isso — disse Acir Gurgacz, que esteve com Temer no dia do jogo entre Brasil e Haiti.
Nos bastidores, os peemedebistas contabilizam 58 a 59 votos a favor do impeachment. Para aprová-lo, são necessários os votos de 54 dos 81 senadores. No caso de Cristovam, um peemedebista disse que ele nunca foi contabilizado na lista do governo Temer.
— Temer está nessa vida há mais de 20 anos. E está fazendo café, almoço, jantar. Mas não tem mais indeciso. Todos sabem que ela (Dilma) não volta, até ela sabe. É jogo político — disse um ministro.
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