terça-feira, 14 de junho de 2016

Basta de Cunha – Editorial / Folha de S. Paulo

Na quarta-feira (8) passada, o deputado José Carlos Araújo (PR-BA), presidente do Conselho de Ética da Câmara, distribuiu algumas perguntas retóricas aos jornalistas que o entrevistavam. Todos queriam saber por que, no dia anterior, ele postergara a votação sobre o relatório que pede a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

"É muito importante que termine logo [esse processo]. Agora, vocês querem o quê? Que termine e que Eduardo Cunha seja absolvido? É isso o que vocês querem?", indagou, decerto mirando não só os repórteres, mas toda a sociedade.

Araújo conhecia a resposta. Desde novembro, segundo pesquisas do Datafolha, 4 a cada 5 brasileiros desejam que o presidente afastado da Câmara perca de vez o seu mandato. Os que defendem o deputado fluminense se limitam a cerca de 10% da população.


Por força das indecorosas circunstâncias políticas, porém, a tropa de choque do peemedebista encontra-se em proporção bem mais elevada na Câmara —e, em especial, entre os membros do Conselho de Ética. Pelo menos 10 dos 21 integrantes desse colegiado já manifestaram sua vassalagem a Cunha.

Existe suspense apenas em torno de um dos votos. Trata-se daquele a ser dado pela deputada Tia Eron (PRB-BA), que assumiu a cadeira de Fausto Pinato (PP-SP) —o deputado deixou o PRB meses atrás e alegou não se sentir à vontade para permanecer com a vaga associada a seu antigo partido.

Congressista de primeira viagem, a agora nacionalmente conhecida Tia Eron teria sido indicada pela sigla com uma missão servil: salvar o suserano, por quem a deputada não esconde sua admiração.

No começo deste mês, todavia, Tia Eron deu declarações que certamente surpreenderam os líderes de sua agremiação. Sem demonstrar a subserviência que dela esperavam, elogiou o relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), para quem Eduardo Cunha valeu-se de "omissão deliberada" no intuito de esconder "práticas ilícitas".

Às vésperas da sessão do Conselho de Ética na semana passada, a cúpula do PRB e deputados da legenda se reuniram com ministros do governo de Michel Temer (PMDB). Não se sabe qual o conteúdo exato dos encontros, mas fato é que Tia Eron simplesmente não compareceu ao colegiado.

Houvesse a votação, Carlos Marun (PMDB-MS), suplente no conselho, daria o 11º sufrágio em prol de Cunha. Seria uma vergonha.

Na sessão programada para esta terça (14), a deputada Tia Eron, não importa qual seja sua posição, ficará marcada na história.

Cabe a ela decidir se estará ao lado da imensa maioria da população, que não aguenta a desfaçatez e os escândalos sintetizados na abjeta figura de Eduardo Cunha, ou se aparecerá nos anais da Câmara como reles fantoche dessa corja.

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