- O Globo
“Sempre me senti uma Evita Perón, porque eu sou mais povo, eu me sinto do povo” Bia Doria, mulher do prefeito João Doria
Marcelo Freixo (PSOL) sabe que remotamente ganhará a prefeitura do Rio. Sabe que o melhor para ele seria perdê-la, pela segunda vez. Por isso, hesita em enfrentar Marcelo Crivella (PRB) com a garra e o gosto de sangue na boca, marcas de um candidato disposto a vencer. Freixo quer conservar-se como a maior referência da esquerda no Rio para disputar o governo do estado, em 2018. E talvez esteja certo.
QUEM, DE FATO, venceu a eleição do Rio no primeiro turno foi a soma de abstenção com brancos e nulos, que chegou a 42,54%. Os 25% dos eleitores que votaram em Crivella representaram algo como 25% do total apto a votar. Freixo beneficiou-se do racha da direita. Juntos, Pedro Paulo (PMDB), Flávio Bolsonaro (PSC), Indio da Costa (PSD) e Carlos Osorio (PSDB) tiveram quase 48% dos votos.
ELEITO DEPUTADO estadual em 2006, com 13.574 votos, e reeleito com 177.253, Freixo alcançou quase 30% dos votos válidos (914.082) ao disputar a prefeitura do Rio em 2012. Perdeu para Eduardo Paes (PMDB). Na época, foi o segundo mais votado entre oito candidatos. Dispensou aliança com outros partidos. Quase não teve tempo de propaganda no rádio e na televisão. Fez a campanha mais barata.
VALEU-SE DA MESMA receita este ano. Com uma diferença, como ele observa: passou para o segundo turno. E terá, no rádio e na televisão, o mesmo tempo de propaganda do seu adversário. Em 2008, apoiado pelo PSDB e o PPS, o jornalista Fernando Gabeira (PV), candidato a prefeito do Rio, acabou derrotado no segundo turno por uma diferença de apenas 1,66% dos votos para Paes.
TEMPO DE propaganda igual pode fazer diferença, sim, mas não impede que no segundo turno alguém vença e alguém perca. Em 2006, por exemplo, Geraldo Alckmin (PSDB), autor, este ano, do feito notável de eleger um poste prefeito de São Paulo no primeiro turno, bateu-se com Lula no segundo turno da eleição presidencial. Teve menos votos do que no primeiro. Um prodígio.
FREIXO NÃO DÁa impressão de que possa ou esteja empenhado em reverter a derrota por ora desenhada. Ganhou de graça o apoio do PCdoB, do PT, da Rede e do PSB. A candidata do PCdoB atraiu menos de 4% dos votos. O PT não teve candidato próprio. O da Rede não passou de 1,5% dos votos. E no PSB do Rio, quem tem voto (o senador Romário) desfila com Crivella por aí.
FREIXO APRESSOU-SE a dizer que Lula e Marina Silva não terão lugar no seu palanque. Candidato interessado em vencer comporta-se assim? Freixo e Crivella disseram descartar o apoio do PMDB. Mas Crivella mentiu. Freixo parece que não. Crivella suou para arrancar o apoio de Indio e de Osorio. Freixo apenas conversou com os dois. Indio apoiará Crivella nesta quarta-feira. Osorio já apoia.
NO PRIMEIRO TURNO, a vantagem de Crivella sobre Freixo foi de 9,52% dos votos válidos. A primeira pesquisa de segundo turno divulgada pelo Datafolha conferiu a Crivella uma vantagem de 17 pontos percentuais. A única notícia boa que a pesquisa trouxe para Freixo é que ele vence Crivella entre os eleitores que ganham mais de dez salários mínimos. Que ironia para um candidato de esquerda!
O QUE NÃO QUER dizer que os ricos estejam errados quando enxergam nele o melhor nome para governar a cidade. Nem que os pobres estejam certos ao preferir Crivella. Na verdade, o tamanho do não voto é que será a melhor indicação do que pensa dos dois candidatos boa parte dos eleitores do Rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário