Estatísticas divulgadas nas últimas semanas reforçam as suspeitas de que a economia vai apresentar uma nova contração no terceiro trimestre. Se confirmada, será a sétima queda seguida em uma recessão cujo início é datado pelos especialistas em 2014. Por sua duração e profundidade, não deveria ser ignorada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne na semana que vem para decidir se começa o tão esperado ciclo de baixa de juro.
Em meados desse ano, os economistas tinham grandes expectativas de que a atividade econômica pudesse ter se estabilizado no segundo trimestre. As Contas Nacionais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, registraram uma queda de 0,6% no período. As esperanças se deslocaram, então, para o terceiro trimestre.
A primeira má notícia, divulgada em meados de setembro, foi a queda de 0,3% nas vendas do varejo restrito em julho, ante o mês anterior. Os especialistas consultados pelo Valor Data esperavam uma estabilidade, sustentada pelo aumento dos níveis de confiança dos consumidores.
O mau desempenho do varejo fez com que os analistas do mercado revissem para baixo suas expectativas para o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br). Mesmo assim, a aposta era uma leve alta, de 0,3%, que poderia ser a segunda consecutiva desde dezembro de 2014. O dado divulgado, porém, apontou uma queda nesse indicador, de 0,09%.
Mais recentemente, houve surpresas negativas na produção industrial medida pelo IBGE, que registrou um tombo de 3,8% em agosto. As perspectivas para setembro também são sombrias, com a queda interanual de 2,1% na produção de veículos registrada pela Associação Nacional dos. Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). As estatísticas do mercado de trabalho também desapontaram, com o número de desempregados chegando a 12 milhões, segundo o IBGE.
A safra de indicadores negativos ocorreu num momento em que o Copom esperava por dias melhores. "Há sinais de uma possível retomada gradual da atividade econômica", escreveu o comitê na ata de seu último encontro, em fins de agosto. Na semana que vem, quando voltar a se reunir, o Copom terá que incorporar nos seus cálculos um quadro menos promissor que o previsto.
Do ponto de vista apenas técnico, a frustração na atividade econômica deveria levar o colegiado a decidir por uma queda mais rápida e forte da taxa de juros. O grau de ociosidade da economia medida neste momento é ainda maior do que se suspeitava, operando como fator disciplinador para reduzir uma inflação ainda muito alta.
Mas seria o caso de questionar se, dadas as perspectivas nada animadoras, o Banco Central não deveria recalibrar a taxa de sacrifício que exige da sociedade para baixar a inflação. Seria um erro abandonar a luta contra a inflação para acelerar a economia de forma artificial; a nossa história mostra que esse expediente, no fim das contas, só leva a mais inflação e menos crescimento. Mas, em um regime flexível de metas de inflação, os banqueiros centrais devem dosar a velocidade de queda da inflação para suavizar as oscilações do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de sua tendência.
Como mostram as projeções apresentadas pelo Banco Central no seu Relatório de Inflação de setembro, o início do ciclo de distensão monetária em outubro, como esperam os analistas econômicos, levaria a inflação a 4,8% em 2017. Seria um desvio mínimo em relação à meta, de 4,5%, para uma inflação que sai de perto de 11% em 2015 - se é que se pode falar em algum desvio, dadas as incertezas que cercam essas projeções econômicas. Para 2018, as projeções apontam inflação abaixo da meta.
Naturalmente, tanto maior será o conforto do BC para baixar os juros quanto mais avançada a implementação das medidas de ajuste das contas públicas. A aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita o crescimento do gasto é um primeiro passo importante, mas um requisito mínimo para começar a distensão monetária. Só medidas que efetivamente cortem o gasto, fazendo escolhas difíceis sobre quem perde e quem deve ser preservado no Orçamento - como a reforma da Previdência -podem de fato abrir o caminho para juros estruturais mais baixos no país.
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