Qualquer que seja o futuro prefeito do Rio, ele não terá maioria na Câmara de Vereadores. Marcelo Crivella, cuja coligação elegeu apenas quatro vereadores, já busca alianças. Marcelo Freixo, do PSOL que elegeu seis representantes, aposta na aproximação da sociedade com o Legislativo.
Novo prefeito terá desafio de ser minoria na Câmara
• Freixo aposta na qualidade dos vereadores do PSOL; Crivella já costura alianças no Legislativo
Ruben Berta - O Globo
Seja qual for dos dois Marcelos a assumir a prefeitura do Rio, terá que lidar com uma situação inédita no passado recente da cidade. Com a derrota de Pedro Paulo (PMDB), candidato do atual governo, no primeiro turno, o futuro chefe do Executivo carioca chegará ao cargo numa situação de minoria na Câmara. Mesmo tendo crescido, o PSOL, de Freixo, tem apenas seis das 51 cadeiras da Casa. Para ter governabilidade, aposta na qualidade de seus representantes e numa maior aproximação da sociedade civil ao Legislativo. Com somente quatro vereadores eleitos da coligação PRB, PR e PTN, Crivella já busca explicitamente alianças.
PMDB TEM DEZ VEREADORES
Com uma tropa do PMDB que chegou a 18 vereadores no fim da atual legislatura — cairá para dez na próxima —, Eduardo Paes teve um caminho sempre aberto para aprovar o que quisesse. Ano que vem, será diferente, e as discussões prometem ser mais acaloradas. Um dos principais defensores dos projetos do atual governo ao longo dos últimos oito anos, o presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB), acredita que o quadro é delicado para o futuro prefeito, que terá de dialogar muito com a Câmara.
— O Legislativo carioca nunca viveu uma experiência como a que teremos a partir do ano que vem. Via de regra, o prefeito eleito tem pelo menos dez, 11 vereadores, já chega com 20% da Casa, o que facilita a construção de uma maioria. Um quadro desses, pulverizado, é muito delicado porque a governabilidade passará pela Casa — afirmou, já saudoso pela saída do aliado: — O governante sábio terá a humildade do Paes, que se dispunha a ligar para os vereadores quando tinha um projeto para aprovar.
Já para o vereador reeleito do PSOL Paulo Pinheiro, ter um governo sem maioria definida será uma grande oportunidade para a Câmara ganhar mais voz:
— O que aconteceu nos últimos anos é que fazíamos audiências públicas, apontávamos os problemas, mas só conseguíamos algum resultado efetivo com a interferência da imprensa ou da Justiça. Com essa nova realidade, a Casa precisará de sabedoria para discutir e ter força para trazer a população para as discussões. A Câmara terá que votar não para o prefeito, mas para a cidade.
Com um discurso conciliador, Crivella diz que tem “conversado com todos, desde que não estejam envolvidos em escândalos como o da Lava-Jato”. Em uma agenda recente, havia três vereadores: Carlos Eduardo (SD) — anunciado como secretário de Saúde em caso de vitória —, Dr. Gilberto (PMN) e Raphael Gattás (PP). O último não foi reeleito. Seu colega de partido Marcelino D´Almeida, porém, já anunciou o apoio ao candidato do PRB à prefeitura.
Ontem, a vereadora mais votada do PMDB, quarta no geral, Rosa Fernandes divulgou um vídeo de apoio a Crivella.
— Não é possível fazer política sem alianças. É melhor que eu ganhe com um voto de vantagem, mas com muitas alianças, do que com 30% de diferença, sem alianças. Eu preciso governar, preciso ter maioria na Câmara dos Vereadores. O político, se não tiver articulação, não consegue governar, por melhor que seja. Pode reunir os mais notáveis, os melhores. O povo não elege o mais inteligente, o mais talentoso. Elege aquele cuja índole e vocação é para o diálogo e contra a intolerância — comentou Crivella.
No primeiro debate do segundo turno, na Band, na última sexta-feira, Freixo destacou a qualidade da bancada de seu partido como um dos fatores que dará governabilidade para a sua gestão. No sábado, em agenda na Tijuca, disse que a pulverização na Câmara pode ser benéfica para uma nova composição, destacando inclusive a redução de vereadores do PMDB:
— A Câmara modificou e está muito pulverizada, tem vários partidos pequenos que fizeram um ou dois vereadores. Isso quebrou uma certa hegemonia. Passada a eleição, temos que começar a sentar com esses vereadores para pensar um projeto de cidade.
ORÇAMENTO MAIS CEDO
Enquanto a campanha ainda se desenrola, a Casa segue suas atividades. Na semana passada, a divulgação em Diário Oficial do calendário do orçamento, que prevê a votação em segunda discussão no dia 27, antes do segundo turno, agitou os bastidores. Não há histórico recente de uma votação tão cedo. Presidente da Comissão de Orçamento, Rosa Fernandes afirmou que o calendário ainda pode mudar e negou motivação política:
— Vamos acelerar porque, naturalmente, num fim de governo, ficará mais difícil mobilizar as pessoas envolvidas para as audiências em novembro, dezembro.
Chegar na transição do governo com o orçamento já pronto não preocupa, a princípio, os candidatos. Crivella destacou, porém, a importância da manutenção da margem de 30% de remanejamento do Executivo.
Citando emendas como a que prevê o remanejamento de apenas 10% de recursos por programa de ação, tradicionalmente apresentada pelo PSOL, o presidente da Casa Jorge Felippe disse que votar o orçamento agora é uma oportunidade para ver se os candidatos, através de suas bancadas, irão apresentar emendas de acordo com o que propõem:
— É um momento de verdade, uma peça de realidade. Não bastar prometer a lua, oferecer o sol...
Paulo Pinheiro disse que continuará apresentando a emenda que prevê a diminuição do poder de remanejamento do prefeito, assim como o Plano de Cargos e Salários da Saúde, mesmo sem saber se o candidato do seu partido será eleito:
— Não vamos mudar de opinião. E queria entender por que o orçamento será votado tão rápido, sem que haja uma discussão adequada. Acho estranho.
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