- Valor Econômico
• Aparelhamento e tráfico de influência são atores principais
Geddel Vieira Lima, o ministro da Secretaria de Governo da Presidência, encarregado das relações com o Congresso, instituição parceira na gestão Michel Temer, pode até acabar ficando com o apoio político recebido ontem, não tem condições de permanecer com equilibrio depois da tentativa de tráfico de influência. Deram-lhe apoio incondicional, ontem, quinto dia da crise, os presidentes da Câmara e do Senado, líderes dos partidos da base, políticos e amigos. Não se compreende a vacilação do presidente diante de tamanho risco de caos político no seu governo. Talvez esteja esperando uma decisão da Comissão de Ética que lhe dê respaldo para agir. Ou, quem sabe, um lampejo de brio do ministro para pedir afastamento, ou fatos subsequentes que tornem o desenlace inevitável. São todos amigos, Geddel não vai querer atrapalhar. Foi assim que caíram outros ministros no governo Temer, nos governos do PT e antes dele, no de Itamar Franco, de José Sarney e Fernando Henrique.
Se o presidente resolver logo isso consegue confinar o drama à disputa política na Bahia, onde borbulha no momento. O PT e demais adversários de Geddel se movem para deitar e rolar. Não é a oposição quem deve dizer ao Temer o que fazer, não depois de sua baixa performance em 13 anos de governo no quesito demissão de ministros comprometidos com o erro. É Temer quem deve tomar a iniciativa.
Desde ontem o caso ficou mais baiano, com as manifestações e mensagens do ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, e das informações colhidas no seu partido sobre os preparativos do ex-ministro Jaques Wagner, em vias de ser novamente autoridade no governo do petista Rui Costa, se é que já não assumiu, de estar providenciando devassa nos interesses locais de Geddel. O distinto público poderia se livrar dessa parte da vida paroquial se o alvejado ministro já estivesse fora do gabinete que decide os destinos desta Nação.
Juca Ferreira reúne as facetas deste caso: é da Bahia, é do PT e como ministro da Cultura promoveu o maior aparelhamento da área entre todos os maiores vistos nos governos petistas. Ainda em quarentena, já manifesta rasgados elogios ao Iphan na contenda com Geddel, por ter barrado o espigão de Salvador e resistido às pressões do ministro. Juca elogia mas demitiu Katia Bogea, atual presidente do instituto, em 2015, a pedido de Waldir Maranhão, vice presidente da Câmara, aquele que anulou o impeachment de Dilma Rousseff, segundo revelou ontem o colunista Ancelmo Gois.
Portanto, o caso já está desviado para a guerra partidária na Cultura e na Bahia, o que só favorece uma decisão rápida do presidente.
A Cultura é uma das duas cidadelas do governo federal onde os partidos, antes no governo do PT, se enraizaram de tal forma que ainda impedem a ocupação plena pelos novos governantes. A outra é a EBC, Empresa Brasileira de Comunicação, que já avançou mais no desaparelhamento.
Não foi por Geddel que Calero pediu demissão, ele estava de saída. A inaceitável tentativa de tráfico de influência foi uma providencial gota d'água. Calero é diplomata, cordial, amigo de várias correntes políticas da área e não conseguiu avançar em duas questões fundamentais que integravam sua difícil missão: levar o bom senso à cidadela aparelhada, reformar a Lei Rouanet.
Já tinha conversado sobre sua saída e o substituto escolhido estava a postos. Troca fulminante, para não deixar acéfala condução da guerra sem fim em que se transformou a Cultura. Com relação a Roberto Freire (PPS), é geral a expectativa de sua força para atuar para dentro e para fora, seguindo na desmontagem das barricadas.
Isso não tem a ver com Geddel Vieira Lima, a não ser que são problemas de um mesmo governo numa mesma área. Ontem, saíram em socorro do ministro o pemedebista presidente do Senado Renan Calheiros, o representante do Democratas na presidência da Câmara, Rodrigo Maia. O discurso é o mesmo do Palácio do Planalto: Geddel é perdedor na briga, não exigiu favor mas alertou que o caso estava judicializado; outra alegação, que também não vem ao caso, é que ele tem feito um trabalho importante para o governo na relação com a base aliada para votações no Congresso. Não há um só liderado de Temer que se impressione com isso.
Como os governos que o antecederam, Temer deixa o atingido no cargo até que use todos os recursos disponíveis, entre eles a atenção da imprensa, para tentar convencer a sociedade. Se a pressão ficar insuportável, o ministro se afasta. Já está insuportável, mesmo que esteja claro que o caso é pilatos no credo de Calero, que o PT da Bahia se regozija em partidarizar a crise ou que o ex-ministro baiano volte a comandar o espetáculo. A demora na ação presidencial facilita tudo, e a tentativa de tráfico de influência, por si, amadureceu o caso Geddel na marra. Cinco dias de relutância não se justificam.
Tentativa
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso autorizou Xico Graziano a escrever e publicar artigo em que o indica para ser o presidente da República da transição, eleito indiretamente para esses dois anos que o próprio FH chama de travessia. O recuo se deu diante da perplexidade de Michel Temer, que considerou ter levado uma rasteira.
Conveniência
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, criou um grupo de articulação para "preservar o espírito" das dez medidas de combate à corrupção elaboradas pelo Ministério Público. A sua comissão de vigilância sobre o Congresso terá 50 integrantes. Deltan Dallagnol, talvez na coordenação do grupo, exige que, abdicando de sua função, deputados e senadores não alterem uma vírgula das suas sugestões, nem mesmo para corrigir os equívocos, como o teste de integridade, ou incluir punições também para os procuradores.
Janot está expedito para vigiar o que faz o Congresso com as leis mas não dá notícia das suas próprias atribuições. Até hoje não andaram os processos dos primeiros mencionados no seu listão inicial, os senadores Renan Calheiros e Collor de Melo.
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