O encontro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social —o primeiro no governo de Michel Temer (PMDB), na segunda-feira (21)— foi marcado pela apreensão com as perspectivas econômicas.
A maior parte dos 96 membros (59 deles novos) elogiou as reformas propostas pelo governo. Cobrou-se, porém, maior ambição e mais agilidade com elas.
Após um empuxo inicial de otimismo com a troca de governo, as vendas e a produção no terceiro trimestre foram decepcionantes. Já se revisam as projeções para o ano que vem, e o próprio governo reduz a estimativa de crescimento do PIB de 1,6% para 1%.
Para membros do chamado Conselhão, não basta aprovar o teto constitucional para gastos públicos e a reforma da Previdência, que o governo promete enviar ao Congresso ainda neste ano. Tais medidas são condições necessárias, mas é preciso ir além.
O conjunto de reformas pendentes inclui mudanças nas legislações trabalhista e tributária, redução da burocracia, destravamento do crédito, clareza regulatória e concessões ágeis ao setor privado na área de infraestrutura.
O governo parece consciente da necessidade de se apressar, mas recua diante do desafio de uma discussão simultânea de várias reformas. É um risco, mas a velocidade dos processos econômicos não respeita os ritmos lentos de Brasília.
A consequente persistência da recessão e da perda de empregos poderá acirrar a impaciência popular e erodir o capital político de Temer. E o risco de alta mais rápida dos juros nos EUA encurta a janela de oportunidade do Planalto.
Nizan Guanaes, participante do Conselho e colunista da Folha, resumiu bem a demanda do setor privado por mudanças. Para o publicitário, Temer precisa aproveitar sua impopularidade para aprovar medidas cujos efeitos são, no curto prazo, impopulares.
De fato, nessa armadilha o país ficou retido nos últimos anos. A gestão petista, em especial com Dilma Rousseff, distanciou-se da realidade e aderiu à demagogia econômica, seguida por tantos governadores e prefeitos. Os custos estão evidentes —12 milhões de desempregados e governos quebrados.
Algumas das medidas podem até se mostrar menos controversas, se bem explicadas e se enfrentarem o que é mais impopular no Brasil de hoje, os privilégios. No caso da reforma da Previdência, só ganhará legitimidade se se pautar pelo tratamento igualitário a todos os setores.
Temer é impopular, e o que resta de mandato, na conjuntura atual, não permite ilusões de uma recuperação rápida de prestígio. Não deve, porém, se deixar deter por isso.
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