domingo, 13 de novembro de 2016

Pezão sabe como comeram o coelho – Elio Gaspari

- O Globo

Do palacete dos Guinle, Pezão administra a ruína do Rio de Janeiro Maria Antonieta, coitada, nunca mandou que na falta de pão os parisienses comessem brioches. Muito melhor fez o governador Luiz Fernando Pezão, do Rio de Janeiro: provocou o fechamento de restaurantes populares que serviam pratos de comida aR$2, quer cortar o aluguel social que ampara milhares de famílias de desabrigados e mudou-se do seu apartamento no Leblon para o Palácio Laranjeiras, onde será servido pela criadagem da mansão.

Pezão administrará a ruína do andar de baixo no luxo do andar de cima. Governa um estado falido e vai morar num palacete francês construído no inicio do século passado para alegrar o magnata Eduardo Guinle. A casa tem um momento de humor na estátua de um nu feminino exposto no terraço, com o traseiro voltado para o olhar do castelão. Quando os Guinle precisaram de dinheiro, passaram a propriedade ao governo federal que mais tarde entregou-a ao Estado do Rio. Foi no Laranjeiras que senhores de terno e gravata praticaram na biblioteca a indecência jurídica da edição do Ato Institucional nº 5. Sob a administração do Estado do Rio, senhores sem terno, gravata ou fosse lá o que fosse, divertiam-se na sala de jantar. Em todos os casos as contas foram para os contribuintes.

Não foi Pezão quem comprou o palácio. Quem o ouve aprende também que, a seu juízo, nada teve a ver com a falência do Estado do Rio. Outro dia, ele era entrevistado por cinco jornalistas, ao vivo e a cores, quando o repórter Octavio Guedes perguntou-lhe se a promiscuidade cultivada pelo governo do Rio com alguns de seus fornecedores “atrapalhava” a boa administração. Guedes se referia expressamente ao anel de brilhantes com que o empreiteiro Fernando Cavendish presenteou o governador Sergio Cabral. Coisa de 2009, quando Pezão era seu vice. O governador toureou-o por três minutos e não respondeu. Atrapalhava, é óbvio, tanto que Cabral devolveu-o quando a polícia saiu atrás de Cavendish.

Pezão sabe o tamanho da ruína do Rio, o que ele não sabe é se comportar diante dela. Acha natural cortar o aluguel social de desabrigados aninhando-se num palácio, ou tourear uma pergunta banal como a de Guedes com a sutileza de um Mike Tyson. O doutor repete que não pode tirar coelho da cartola porque nem cartola tem mais. Verdade. Podia ao menos contar como comeram o coelho?

Um Trump manso é sonho de perdedores
Sabendo-se que poucas pessoas previram a vitória de Donald Trump na eleição americana, é bem mais difícil prever o que ele poderá fazer no governo. Numa hora dessas, o melhor negócio é prestar atenção no relato de um jornalista que sujou os sapatos tentando responder a essa pergunta. O repórter Evan Osnos foi à luta e entrevistou duzias de pessoas. Gente da equipe de Trump, republicanos e especialistas. Em setembro ele publicou um artigo na revista “New Yorker” intitulado “O primeiro mandato de Trump” (“President Trump's first term”).

A ideia segundo a qual Trump prometeu uma coisa e entregará outra é uma ilusão. A taxa de fidelidade dos presidentes americanos está em 70%, e o fenômeno Dilma Rousseff aconteceu no Brasil, deu no que deu.

É provável que Trump não construa o muro do México, assim como não deportará 11 milhões de imigrantes. Deportará muita gente e já conseguiu espalhar o medo, desestimulando quem pensava em emigrar no peito.

Sua equipe trabalha com a hipótese de entrar atirando, como fez Ronald Reagan. Reduzirá os controles para a compra de armas, tomará distância de acordos ambientais e tarifários e comprará uma boa briga: tentará acabar com a estabilidade dos servidores públicos.

Serviço: O artigo de Osnos está na rede.

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