- O Estado de S. Paulo
O comportamento nervoso e volátil do mercado financeiro desta quinta-feira ainda não é consequência de mudanças na economia mundial. Refletiu apenas a expectativa do impacto Trump sobre a economia real dos Estados Unidos e do mundo que começará apenas a partir de janeiro quando da posse do novo governo americano.
Depois de uma quarta-feira relativamente inibida pela perplexidade produzida pela vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, os trancos provocados pela aflição dos senhores do dinheiro ficaram mais impressionantes nesta quinta-feira.
A percepção é a de que o futuro governo Trump vai mudar muita coisa na política econômica dos Estados Unidos e que essas mudanças produzirão solavancos sobre o resto do mundo.
Essas mudanças começarão com a prometida redução de impostos pagos pelas empresas e pelo aumento das despesas públicas com investimentos em infraestrutura e defesa, cujo objetivo é dar empuxo ao setor produtivo e gerar empregos.
As principais consequências desse presumível novo arranjo seria algum aumento da inflação que, por sua vez, obrigará o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) a puxar pelos juros por meio da revenda de títulos no mercado e, portanto, pela retirada de dólares de circulação. Isso significa que menos dólares sobrarão para serem aplicados em investimentos de risco, inclusive nos países emergentes, como o Brasil.
O salto do rendimento (yield) dos títulos de dez anos do Tesouro dos Estados Unidos mostrado no gráfico revela que já começou o movimento por maior procura de dólares nos mercados. O impacto sobre as cotações do câmbio no Brasil foi relevante, como mostra o gráfico no Confira, e tende a continuar forte.
Esta é apenas a reação imediata ao novo diagnóstico. Tanto esse diagnóstico como a reação correspondente estão sujeitos a mil e uma alterações, uma vez que não basta saber o que pensa Trump; é preciso, também, saber quanto do que pensa será colocado em prática.
Mas serve para passar uma boa ideia dos solavancos a que está sujeita a economia mundial e, em particular, a brasileira. Se os dólares se tornarem mais escassos, como parece, o Brasil terá de contar com menos investimentos em moeda estrangeira, num momento em que mais precisará trazer poupança do exterior para alavancar o crescimento econômico.
A nova tendência à alta do câmbio interno pode interromper a desaceleração da inflação mostrada nos dois últimos meses. E aí é preciso ver até que ponto o Banco Central do Brasil estará disposto a prosseguir no processo de redução dos juros básicos (Selic) começado em outubro.
A questão central, no entanto, consiste em saber se a economia brasileira, vulnerável e desequilibrada como se encontra, estará em condições de enfrentar as turbulências políticas e econômicas já contratadas tanto pela administração Temer, que precisa repassar uma conta dolorosa para os brasileiros, quanto pelos efeitos produzidos pela eleição de Trump.
Nenhum comentário:
Postar um comentário