Thais Bilenky – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, montou uma operação para tentar neutralizar a aliança entre o chanceler José Serra e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), articulando com diretórios estaduais do PSDB a oposição à prorrogação do mandato do mineiro na presidência nacional da legenda.
Após a revelação, feita pela Folha, de que Serra decidiu apoiar a recondução pela segunda vez de Aécio, aliados do governador afirmam que essa possibilidade seria uma violação ao debate partidário.
O secretário-chefe da Casa Civil de Alckmin, Samuel Moreira, atua na movimentação, que inclui os presidentes de diretórios de São Paulo, Rio, Bahia e Rio Grande do Norte.
"Prorrogar mandato é declarar a nossa incapacidade de resolver problemas internos", criticou o deputado federal Otavio Leite, presidente estadual do PSDB no Rio.
"Alckmin tem toda a legitimidade para sugerir nomes. Serra já foi presidente e Aécio também", emendou o deputado, para quem interesses eleitorais não deveriam prevalecer na disputa interna.
O controle partidário, no entanto, é importante no processo de escolha do candidato tucano à Presidência da República, posto que Aécio, Alckmin e Serra almejam.
O regimento do PSDB veda duas reeleições consecutivas, mas o ex-senador Sérgio Guerra, morto em 2014, abriu precedente ao ter ficado à frente do partido por três mandatos, argumentou o ministro de Relações Exteriores.
Além disso, defensores da recondução de Aécio argumentam que uma disputa interna, prevista pra maio do ano que vem, racharia ainda mais o partido, às vésperas da eleição de 2018, tese da qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teria sido um dos autores.
Dirigentes alinhados com Alckmin rebatem, defendendo nomes supostamente "neutros" no comando do PSDB a partir de maio do ano que vem. O presidente do diretório de São Paulo, deputado estadual Pedro Tobias, sugeriu que o senador Tasso Jereissati (CE) assuma.
"Essa declaração do Serra, em um ambiente tão perturbado, é capaz de perturbar mais", disse Tobias. "Como Tasso não é candidato, ele pode coordenar esse processo."
Tobias citou a pesquisa de intenção de voto do Datafolha, publicada pela Folha nesta segunda-feira (12), que mostrou Marina Silva (Rede Sustentabilidade) à frente dos tucanos na disputa de 2018. "Precisa unir. Se dividir, vai para o brejo", disse.
O suplente de senador Valério Marinho, que comanda o PSDB no Rio Grande do Norte, foi na mesma linha ao pregar a unidade entre caciques. "Não há problema em reconduzir Aécio, mas, se houver outros nomes, é preciso que haja debate", sustentou.
Há alguns dias, Alckmin viajou à Bahia, onde se encontrou com o presidente local do PSDB, deputado João Gualberto.
A aproximação é vista como mais uma movimentação do governador para fazer frente a Aécio e Serra, aliados, respectivamente, de Antônio Imbassahy e Jutahy Júnior, tucanos baianos com bom trânsito em Brasília.
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