Por Cristian Klein - Valor Econômico
RIO - No mais tenso e novo capítulo do embate que vem travando com o governador do Rio Luiz Fernando Pezão (PMDB), o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, defendeu ontem que o prefeito da capital Eduardo Paes (PMDB), depois do fim do mandato, assuma em janeiro as rédeas da gestão do Estado para dar uma guinada na "situação caótica" da crise financeira.
Picciani propôs que Paes assuma uma espécie de supersecretaria, para coordenar os demais secretários e recuperar a credibilidade do Rio na negociação de recursos e projetos com o governo federal - praticamente na posição de um governador de fato. "Há um ano e meio venho falando que esse governo era muito fraco, que não tinha governo, e continuo achando. Cobro mudança desde então. A cada dia que passa a situação piora", disse Picciani, em entrevista ao Valor.
O cacique do PMDB criticou Pezão - cuja administração considera "desastrada", "de outro mundo". "É meia-bomba desde o primeiro dia", disse. Picciani sugeriu que "cabia ao Pezão fazer o apelo [para Paes assumir a gestão]", mas aprendeu que o governador "ouve todo mundo e faz o que quer". "Assim essa p. não dá certo!", exclamou. O deputado contou que ele mesmo ligara para o prefeito, uma hora antes, para falar do plano. Mas Paes declinou. "Ele disse que não, que está saindo de oito anos de mandato, de estresse grande com a Olimpíada, que o consumiu demais", afirmou.
Em nota enviada pela prefeitura, Paes respondeu no mesmo tom relatado por Picciani. "O prefeito Eduardo Paes agradece as reiteradas manifestações de gentileza do presidente do PMDB, Jorge Picciani, sobre a sua capacidade de gestão. Mas, depois de oito anos extremamente prazerosos e exaustivos à frente da Prefeitura do Rio, Paes mantém o seu plano de passar um semestre nos Estados Unidos junto com sua família. Ele continua à disposição do governador Pezão para colaborar no que for preciso, mas não há possibilidade de assumir qualquer cargo no governo estadual. Eduardo Paes reforça seu interesse em concorrer ao governo do Rio em 2018", diz a nota.
Procurado pelo Valor, Pezão não entrou na briga com Picciani e preferiu elogiar Paes. "O prefeito é um grande gestor e engrandeceria qualquer governo", disse, por meio da assessoria.
A função que Picciani sugere a Paes exercer agora já havia sido reservada para seu filho, Rafael Picciani, deputado estadual licenciado, assim que deixasse a Secretaria-Executiva de Coordenação de Governo da Prefeitura do Rio, na virada do ano. O presidente da Assembleia Legislativa, no entanto, afirma que Rafael não aceitará o cargo. "O Pezão convidou o meu filho Rafael. Sugeri a ele que não aceitasse, até porque, mesmo sendo um bom quadro, não acho que tenha a experiência para a tarefa. Não posso falar por ele, mas tenho certeza de que ele não aceitará", disse.
Picciani nega que esteja articulando uma intervenção branca no governo Pezão. "É um esforço coletivo para salvar o Estado, se não o governo não tem condição de se salvar", argumentou, desenhando um cenário caótico, que pela sua previsão deve chegar, em março, a um atraso de três meses de salários.
Na falta de Paes, Picciani defendeu que Pezão procure um nome de peso no mercado, alguém da relevância de um Pedro Parente, presidente da Petrobras, citou. "Tem que remontar o governo. Do contrário não tem credibilidade para renegociar nada em Brasília", disse.
O pemedebista afirmou que é necessário restabelecer o diálogo com servidores, sociedade civil e governo federal. "Precisamos fazer nossa parte aqui no Rio. Vai haver caos, paralisação. [O clima] está muito atritado", disse, numa referência a manifestações que ocorrem mesmo em dias sem votação na Assembleia, como ontem.
Picciani criticou o envio do pacote de ajuste fiscal de Pezão, que chegou à Assembleia "sem condição de ser aprovado": "Idealizaram o que não era possível ocorrer, e nem tem base política para impor".
Ontem, Pezão negou que tenha recebido doações ilegais de campanha da Odebrecht, em 2014, conforme delação do ex-diretor da construtora, Leandro Azevedo, vazada no fim de semana. Lembrou que já foi citado na Lava-Jato e o caso arquivado. Reconheceu que recebeu visita de Azevedo, em sua casa, para pedir ajuda na liberação de recursos, em Brasília, para a obra da Linha 4 do metrô. "Estavam a ponto de parar a obra. Me empenhei para os recursos serem liberados no BNDES, mas não beneficiava a empresa, mas o consórcio, e o término da obra do metrô", disse.
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