Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - A reação do presidente Michel Temer à crise política que atingiu os Poderes da República avança em três linhas de ação. Uma é o questionamento da morosidade do Ministério Público nos desdobramentos da Lava-Jato, que está provocando o sangramento em doses lentas do governo e do Congresso. Outra são as medidas econômicas, cuja elaboração o governo espera concluir nos próximos dias. E uma reforma ministerial que revigore a administração, em parceria com os parlamentares e principalmente com a sociedade.
O presidente Michel Temer está sendo aconselhado a fazer já essa reforma ministerial para ampliar a base de sustentação do governo, tirá-lo do isolamento e reaproximá-lo da sociedade civil. O primeiro ministério de sua gestão foi uma escolha quase solitária do presidente. Ele agora deve ampliar as consultas, atrair governadores, como Geraldo Alckmin, de São Paulo, e escolher nomes representativos da sociedade, no campo técnico, acadêmico, cultural, reconhecidos no país. O governo passaria a ter menos a cara de Temer e mais da sociedade, é o que lhe recomendam.
O perfil seria o do presidente da Petrobras, Pedro Parente, e da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos, ambos escolhidos e nomeados por Temer. Há resistência do presidente à ideia de se desfazer do núcleo mais próximo, que o acompanha há 25 anos. Portanto, a princípio, não deve dispensar seus conselheiros principais Eliseu Padilha e Moreira Franco.
Mas, fontes que participam das conversas dizem que o tempo de Temer pode estar acabando e que, logo, logo, corre o risco de ninguém mais querer ir para um governo de pequena duração.
Entre os assessores de Temer, segundo apurou o Valor, a ideia de mudanças mais amplas é vista com cautela. Temer já dispõe de um sólido apoio no Congresso e qualquer movimento mal calculado pode colocar isso em risco.
De qualquer forma, Temer está acertando a entrada dos tucanos no governo e o nome novo do PSDB a integrar o grupo é o de Antonio Imbassahy. O ritmo das mudanças que ele imaginava promover, há uns dois meses, não poderá permanecer. Em lugar de reformas a partir de março, os aliados acham que Temer deve fazer logo agora. Lembram que o compromisso de Temer com todos os partidos é entregar o país tranquilo para a sucessão de 2018.
No momento, a prioridade máxima do governo são as medidas para ativar a economia. A votação da PEC do teto de gastos públicos em segundo turno, prevista para hoje, será o encerramento de uma etapa.
Na remontagem do governo, explicam aliados, as mudanças de ministros teriam uma lógica: um nome do PSD, por exemplo, seria o de Rogério Rosso (DF), pois Gilberto Kassab foi atingido pelas denúncias, o que deve acontecer com todos que presidem ou presidiram partidos.
O presidente está também sendo aconselhado a ter um nome de mais peso na Justiça, um ministro capaz de manter uma interlocução por cima com o Judiciário. Por exemplo, alguém como o jurista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que convidou inicialmente para o cargo logo que assumiu mas foi queimado na largada por dar entrevistas com opiniões fortes sobre a Lava-Jato.
Temer voltou a considerar também uma elevação do grau de importância do Planejamento, que ficou reduzido com a nomeação do técnico Dyogo Oliveira, oriundo dos governos do PT. Temer avalia também a escolha de um nome mais forte para a Saúde, a ser indicado pelo próprio PP que também quer trocar seu indicado, Ricardo Barros, de atuação considerada tímida.
O perfil que se busca nesta nova etapa do governo é também, além dos exemplos para a Petrobras e BNDES, o de Blairo Maggi. O ministro da Agricultura é considerado um dos mais adequados ao governo.
Haveria a troca de cerca de quatro nomes hoje em cargos de grande visibilidade, de acordo com as recomendações a Temer, para dar uma cara nova a um governo que tem o perfil envelhecido do Congresso.
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