Por Vanessa Adachi – Valor Econômico
SÃO PAULO - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi à casa dos banqueiros ontem e entregou a eles o que considera ser a fatura dos bancos na demora para retomada da economia: a cobrança de spreads elevados no crédito oferecido às empresas e às pessoas físicas, a despeito da queda da taxa básica de juros (Selic) e dos juros futuros, fatos que indicam redução no custo do dinheiro.
Em seu discurso no almoço de fim de ano da Federação Brasileira de Bancos, Meirelles, que já foi banqueiro e presidiu o Banco Central (BC) por oito anos, convidou a todos a "pensar juntos". Ao listar as razões para a demora da retomada, o ministro mencionou a alavancagem de empresas e indivíduos e construiu o raciocínio de que a queda do endividamento das famílias não foi acompanhada da redução do comprometimento da renda com o pagamento das dívidas. Isso ocorreu, disse ele, porque a Selic caiu, mas os spreads aumentaram.
Presente ao encontro, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, também falou de crédito, ainda que de forma mais suave. "Líquido como está, o sistema financeiro nacional estará pronto e disposto a financiar a recuperação econômica". Ele contou que o BC está trabalhando em ações para a redução sustentável e perene do custo do crédito, entre elas, a simplificação do compulsório. O presidente da Febraban, Murilo Portugal, elogiou os dois, uma forma de lembrar aos associados que, em meio à crise política de desfecho imprevisível, é preciso blindar a equipe econômica.
Meirelles cobra bancos por elevar spreads com taxa Selic em queda
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi à casa dos banqueiros ontem e entregou a eles o que considera ser a parte dos bancos na fatura do atraso da retomada da economia: os elevados spreads cobrados dos clientes, que subiram nos últimos meses, a despeito da redução da Selic e dos juros futuros.
Em seu discurso no almoço de fim de ano da Federação Brasileira de Bancos, a Febraban, tendo como ouvintes Roberto Setubal (Itaú), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Sergio Rial (Santander), os presidentes dos dois principais bancos federais e toda a corte do sistema bancário nacional, Meirelles convidou a todos, de modo descontraído, a "pensar juntos".
Ao listar as razões para a demora da retomada da economia, o ministro mencionou a alavancagem de empresas e indivíduos e construiu o raciocínio de que a queda do endividamento das famílias não foi acompanhada da redução do comprometimento da renda das famílias com o pagamento das dívidas e arrematou: isso aconteceu porque a Selic caiu, mas os spreads aumentaram.
Meirelles recorreu ao fato de ter "trabalhado em bancos por décadas" para dizer que a decisão dos bancos de recompor margens era "compreensível", dado o elevado risco do crédito no cenário atual. Mas avançou e disse que o momento atual, no entanto, é excepcional.
Meirelles não chegou a dizer com todas as letras que os bancos precisam baixar os spreads. Mas nem precisava; o recado foi compreendido. Numa fala em que procurou se defender de críticas, embora sem adotar uma postura defensiva, claramente o ministro quis compartilhar a responsabilidade e dizer aos bancos que cada um precisa fazer a sua parte para a retomada acontecer.
"O que está acontecendo é um fenômeno que, em virtude do tamanho da crise, bancos estão se precavendo contra a inadimplência e não estão reduzindo juros com a queda da demanda. Pelo contrário, estão aumentando um pouco os spreads", disse Meirelles a jornalistas após seu discurso. "Eu chamei atenção de todos para isso... [mas] acho que não compete, eu nunca acreditei que governo deva pedir, deva fazer apelo, o governo tem que tomar medidas necessárias, como estamos tomando, que permitam a retomada da economia e maior eficiência e queda dos spreads", completou.
Um ouvinte comentou sobre se tratar do discurso de praxe dos ministros da Fazenda, que sempre cobram spreads menores dos bancos e apontou para uma falha no raciocínio de Meirelles, que desconsiderou a enorme cunha fiscal que compõe o custo do crédito, como impostos e depósito compulsório.
Mas o "recado de praxe" não veio de um ministro estranho ao ninho bancário. Muito pelo contrário. Ninguém no salão do hotel Unique, em São Paulo, parecia mais à vontade do que Meirelles, que já participou do tradicional evento de encerramento de ano da Febraban em todas as posições relevantes: banqueiro pelo BankBoston, presidente do Banco Central e, finalmente, ministro da Fazenda.
O presidente do BC, Ilan Goldfajn, também trouxe em seu discurso a questão do custo do crédito, mas de forma mais suave e colocando-se como parte da solução. "Líquido como está, o sistema financeiro nacional estará pronto e disposto a financiar a recuperação econômica", disse, pontuando mais adiante que o BC está trabalhando em medidas para a redução sustentável e perene do custo do crédito no país, entre elas a simplificação do compulsório.
Meirelles e Ilan estavam afinados. Cientes da pressão que avançou sobre Fazenda e Banco Central nas últimas semanas, em que a permanência de Meirelles no cargo chegou a ser colocada em dúvida, ao passo que boa parte do mercado financeiro começou a demandar uma postura mais arrojada do BC na derrubada dos juros, ambos buscaram desarmar as cobranças em seus discursos. Procuraram colocar os passos já tomados em perspectiva, mirando as críticas dos chamados "engenheiros de obra pronta", ao mesmo tempo em que enfatizaram a responsabilidade do governo anterior na construção do caos econômico que encontraram.
Coube ao representante dos anfitriões, Murilo Portugal, presidente da Febraban, fazer um discurso de apoio aos dois, como que para lembrar aos associados que, em meio ao tumulto político de desfecho imprevisível, é preciso blindar a equipe econômica. "Uma equipe econômica de qualidade é a única coisa com a qual podemos contar no momento", comentou um ouvinte.
Portugal exaltou a credibilidade de Meirelles como elemento essencial do processo de enfrentamento dos problemas acumulados na economia. E também elogiou o trabalho que considerou bem-sucedido de Ilan e equipe em ancorar as expectativas de inflação de julho para cá. Por fim, deu seu voto de confiança ao BC no que se refere à tarefa de afrouxar a política monetária daqui em diante, mas não sem uma cobrança final sobre a velocidade da queda dos juros que, segundo ele, espera-se que seja crescente. (Colaborou Arícia Martins)
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