Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - A bomba da Odebrecht provocou ondas de choque intensas no Palácio do Planalto e o edifício está cheio de rachaduras. A posição do secretário Moreira Franco (PPI) é exemplar. Ele comanda o carro-chefe do governo na área de concessões de infraestrutura, que patrocina obras, tem previsão de gastar R$ 60 bilhões em obras de infraestrutura, justamente o foco das investigações da Lava-Jato e das inconfidências bem premiadas dos executivos da empreiteira.
Moreira Franco está praticamente imobilizado na função, diante das denúncias da Odebrecht. Mesmo que desminta as reuniões mencionadas e que tenha elaborado um passo-a-passo de tudo o que fez durante as tratativas para a construção de um terceiro aeroporto em São Paulo. Espécie de check-list. Parece que está fácil provar: teve pouca participação e quando atuou foi para evitar e contrariar interesse desses típicos perseguidos pela Lava-Jato. Duro é provar, e se provar, a tempo.
Mas a situação de Moreira não é única no Planalto, onde outra lage do edifício foi atingida: o ministro da Casa Civil, que cuida de todos os assuntos de governo e da política, meio adoentado, agora ainda mais sobrecarregado com a saída do ex-secretário de Governo Geddel Vieira Lima. Bem a propósito, a crise da demissão de Geddel, cujas possibilidades de solução "por dentro" estavam ao alcance do governo Temer, chega a deixar saudade diante do Exocet da Odebrecht lançado a partir da força-tarefa.
Padilha está tão constrangido quanto Moreira e outros ministros citados. Isso é muito ruim porque levará quase inevitavelmente à imobilização, o que deixaria o governo Michel na mesma situação dos derradeiros dias de Dilma Rousseff. Tudo parado, como esteve parado, nos últimos seis meses, já no período Temer, também o BNDES, só por temor de seus funcionários de tocar alguma coisa, com receio da responsabilização.
O maior cacife de Temer é o Congresso. É com ele que tenta viabilizar o governo, é através desse Congresso caindo pelas tabelas que pode ao menos ganhar tempo para articular uma saída. O presidente, até a semana passada, tinha o controle sobre uma bancada de mais de 340 deputados, o que até agora garantiu a PEC do teto e se preparava para deixar a reforma da Previdência pronta para andar em 2017. Agora isso está sob risco mesmo com Temer no comando.
A votação do segundo turno da PEC do Teto será um teste. Ela parecia aprovada, mas voltou a correr risco. Vai depender dos torpedos acionados pelos Procuradores, que aparecem nos céus a cada vitória ou iminência de vitória do governo. Desde o período Dilma-Lula. (Lembremos um episódio, o da nomeação de Lula para ser ministro da Casa Civil). Mas assim como a relação Temer-Congresso pode desandar, também pode juntar -- estão todos no mesmo barco.
Nas delações, Temer teria tratado de assuntos de dinheiro da empreiteira dentro de um próprio da Presidência da República. Nivelado a Lula, mas também aos quase 200 deputados também citados nos pergaminhos da Odebrecht, uma empresa que capturou o sistema político como um todo, mas às vezes parece fazer crer que foi vítima da lábia de políticos espertos. Na realidade, era uma espécie de proxeneta nos negócios públicos.
Temer e seu governo têm saídas. A principal é mostrar para a população que não existe opção à vista. Poucos como ele e seu grupo têm capacidade para mobilizar o Congresso da forma como têm feito. Mas, para isso, precisa aprovar as reformas. E cruzar os dedos para que a economia comece a apresentar resposta.
Ainda pode haver outra saída plausível: uma mudança profunda de governo, com a chamada de nomes acima de qualquer suspeita, algo assim como a atual equipe econômica ou dirigentes de estatais como Pedro Parente (bem sucedido gerente de crises como o Apagão e agora a da Petrobras, só para citar um perfil.
Algo parecido com o "Ministério dos Notáveis" de Fernando Collor, que não deu certo. Já foi uma fórmula melhor, quando "todo o poder ao Meirelles" não tinha contestações, nem o próprio Temer tinha sido alvejado.
Tem a opção da eleição direta, em caso de cassação da chapa até 31 de dezembro, que é a solução mais aceita pela população, segundo o Instituto Datafolha. Ou a renúncia de Temer, que a esta altura parece improvável.
A eleição direta teria que ser convocada em um prazo de 90 dias, pelo presidente da Câmara que então assumiria a presidência. Em qualquer alternativa seria uma eleição realizada sob o império da Lava-Jato.
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