Por Sergio Lamucci – Valor Econômico
SÃO PAULO - A taxa de desemprego já supera a marca de 12% em cálculos que levam em conta o ajuste sazonal dos dados divulgados pelo IBGE. Na série dessazonalizada do Goldman Sachs, por exemplo, a desocupação atingiu o nível recorde de 12,1% nos três meses encerrados em outubro - acima dos 11,8% dos números originais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.
No mesmo período de 2015, a desocupação estava em 9,2% quando se descontam fatores sazonais, segundo o Goldman Sachs. Na série original do IBGE, a taxa era de 8,9%.
Os números dão uma medida da deterioração acentuada do mercado de trabalho, um dos principais motivos que explicam a queda do consumo privado, ao lado do nível elevado de endividamento das famílias e da contração do crédito. Segundo analistas, essa piora deve continuar nos próximos meses.
Para o diretor de pesquisa para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, o desemprego seguirá em alta em termos dessazonalizados até metade do ano que vem, quando deve se estabilizar entre 12,5% e 13%. Ele observa que a contração do emprego está se acelerando. Nos três meses até outubro, a população ocupada caiu 2,6% em relação a igual período de 2015, o equivalente a 2,4 milhões de pessoas. Foi uma queda mais forte que a registrada no trimestre encerrado em setembro, de 2,4% na comparação.
Já a população economicamente ativa (PEA), formada pelos ocupados e por quem busca emprego, cresceu em ritmo mais fraco. Nos três meses até outubro, subiu apenas 0,6%, abaixo do trimestre até setembro (0,8%). Isso acabou por evitar uma alta ainda mais forte do desemprego, nota Ramos, em relatório.
Pelos cálculos do Bradesco, a desocupação em termos dessazonalizados também superou 12%, alcançando o pico da série, de 12,3%, nos três meses encerrados em outubro. No trimestre até setembro, o número estimado pelo Bradesco era de 11,9%. Os analistas do banco também veem um cenário pouco animador para o mercado de trabalho nos próximos meses, "diante da continuidade da queda da população ocupada" e dos últimos resultados do emprego formal mostrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A expectativa de recuperação mais gradual da economia é um mau sinal, apontando perspectivas negativas para ocupação e renda. O mercado de trabalho, como observa o Bradesco, costuma reagir de modo defasado à retomada da atividade.
Os números da PNAD Contínua também mostraram mais uma vez que o ajuste no mercado de trabalho no Brasil ocorre muito mais pelo emprego do que pela renda. Enquanto a desocupação cresce com força, o rendimento médio real (descontada a inflação) tem quedas relativamente moderadas para uma recessão que se arrasta há quase três anos. Nos três meses até outubro, a renda média real recuou 1,3% em relação ao mesmo período de 2015. No trimestre encerrado em outubro, a baixa tinha sido de 2,1%.
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