- O Globo
Uma das poucas boas notícias deste fim de ano é a da inflação no espaço de flutuação da meta, o que significa uma queda de mais de quatro pontos percentuais em um ano. Nessa semana, a mediana das projeções do Boletim Focus registrou pela segunda vez que a taxa do ano ficará abaixo de 6,5% e essa foi também a perspectiva feita pelo Banco Central no Relatório de Inflação.
O ano foi inteiro de luta contra a alta do IPCA. A inflação entrou em 2016 em 10,67% e foi para 10,71% em janeiro. No começo do ano, o economista José Roberto Mendonça de Barros disse que ela cairia “a golpes de recessão”. Neste fim de semana, o presidente do Banco Central Ilan Goldfajn falou que o BC havia acertado e a taxa estava convergindo para a meta. Os dois têm razão. Caiu a golpes de recessão, mas o ganho de reputação do BC ajudou no esforço de chegar ao fim do ano dentro do intervalo de flutuação, podendo ficar, no ano que vem, no centro da meta. Isso não resolve a crise, mas permite a redução dos juros.
No começo do ano o país estava com a pior combinação possível: recessão e inflação. Quando os dois problemas chegam juntos fica mais difícil dar estímulo monetário porque o Banco Central tem que elevar os juros para combater a alta de preços e isso aprofunda a recessão. O governo Dilma controlou artificialmente as tarifas de energia e depois deu um tarifaço. Isso levou a inflação a dois dígitos.
— O choque dos preços administrados no ano passado comprometeu também a inflação deste ano. Houve aumento de custo para todo mundo. Energia elétrica, salário mínimo, gasolina. Isso provocou um efeito secundário sobre os preços livres. Agora, esses choques já passaram e o cenário é mais favorável — explicou o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal.
A inflação de serviços já é a menor desde fevereiro de 2010. Esse é um dos grupos que mais vinham preocupando o Banco Central porque custou a cair mesmo com a forte retração do PIB. Em novembro, a taxa finalmente recuou ao menor patamar desde fevereiro de 2010. Outro grupo que também passou a ter números mais comportados foi o de alimentos.
O chefe do Centro de Estudos Monetários da FGV, José Júlio Senna, diz que as condições para o Banco Central acelerar o corte de juros para meio ponto na reunião de janeiro estão dadas.
— A nova diretoria do BC foi conservadora quando tomou posse e agora colhe os resultados. Em quatro reuniões, os juros foram mantidos em duas, e só caíram em 0,25 ponto nas outras duas. Agora, ele pode acelerar o ritmo sem comprometer as expectativas, que estão próximas da meta em 2017 e na meta em 2018 — disse.
O grande risco, diz o economista, continua sendo a agenda de ajuste fiscal. As projeções de crescimento da dívida bruta do governo mostram uma trajetória insustentável, e sem reformas o país poderá passar por uma nova crise de confiança. Com isso, o dólar iria se elevar rapidamente, com impactos na inflação e nos juros.
— O receio é que os políticos achem que a redução dos juros vai resolver todos os problemas da economia e aí acaba o ajuste fiscal. Não é bem assim. Os EUA colocaram juros negativos e isso não significou aumento de investimentos. É preciso resgatar a confiança e reequilibrar as contas públicas. A redução da Selic, sozinha, não resolve — explicou.
Há algumas semanas o professor Luiz Roberto Cunha disse ao blog que havia uma chance de a inflação ficar no intervalo de flutuação em 2016, contrariando as projeções feitas durante todo o ano e que apontavam uma taxa em queda, mas ainda acima do teto. Basta que o resultado de dezembro fique em 0,53% ou menos. O IPCA-15 foi de apenas 0,19%, bem abaixo das projeções. Os economistas então passaram a projetar inflação dentro do espaço da meta.
Para o consumidor a queda da renda, o ambiente recessivo e o desemprego vão manter o desconforto econômico. E janeiro costuma ser mês de inflação alta. Mas, depois de encarar sete trimestres seguidos de recessão e uma inflação acima de 10%, a diminuição do ritmo de reajuste dos preços está sendo, sem dúvida, uma boa notícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário