Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Economista de formação, prefeito do Rio por 12 anos, pai do presidente da Câmara dos Deputados e prestes a assumir o segundo mandato na Câmara dos Vereadores, Cesar Maia, 71 anos, está fechadíssimo com o Planalto. Em sua visão, o governo de Michel Temer vai repetir a trajetória de Itamar Franco, cuja impopularidade cresceu mas terminou enaltecido, depois de lançar o Plano Real e debelar a hiperinflação. Maia descola-se do bloco liderado pelo PSDB, ao qual o seu partido esteve alinhado desde 1994 na maior parte do tempo, ao comentar o alinhamento com os tucanos. "O DEM é parte central do governo Temer e nossa aliança é com o PMDB de Temer", afirma.
O ex-prefeito não vê o risco de desintegração da base aliada do pemedebista, seja pela luta encarniçada que se aproxima entre seu filho Rodrigo Maia - em busca da reeleição e do posto de número 2 na linha sucessória presidencial - e o Centrão, seja pelo potencial explosivo da Lava-Jato.
No Rio, Cesar e Rodrigo Maia estão para Temer assim como Leonardo e o pai Jorge Picciani, cacique do PMDB estadual, foram o esteio de Dilma Rousseff, nos estertores da administração da petista.
"Temer não será afastado", diz, em entrevista ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor.
O perigo para Temer, afirma, não está na delação de 77 executivos da Odebrecht - cujo conteúdo vazado, aliás, alcançou Rodrigo. O risco é se a economia não mostrar sinais de recuperação em 2017. Caso as investigações cheguem perto do presidente, Temer pode perder auxiliares próximos, como Eliseu Padilha e Moreira Franco, mas não o cargo. "Em cima do Temer não há como. Em um presidencialismo vertical e personalista como o nosso, não vejo como. Muda-se quem for necessário mudar. O único risco é concluir 2017 sem ventos de recuperação", diz.
Para Cesar Maia, no entanto, o cenário negativo é improvável. O ex-prefeito minimiza o fato de que a ascensão de Temer ainda não tenha revertido as expectativas dos agentes econômicos, que diziam apostar no impeachment de Dilma para a retomada do crescimento. Sublinha que se passaram apenas três meses, desde que o pemedebista se tornou presidente efetivo. "Seria ilusão imaginar que a desintegração econômica se resolveria com a mudança de pessoas. Haveria que fazer fortes ajustes e isso levaria tempo", afirma.
Para Maia, as mudanças propostas pelo governo federal - entre elas a PEC do teto de gastos, a agenda microeconômica e as reformas previdenciária e trabalhista - estão "corretíssimas". "A expectativa é que a reativação venha em um ano, ou seja, no último trimestre de 2017", prevê.
Sobre a Lava-Jato, Maia diz que a operação é "impecável, já está produzindo os resultados e produzirá muito mais". Quanto à citação do nome do filho, afirma que "as investigações mostrarão o que eram doações lícitas e ilícitas". "Quem não deve não teme", acrescenta.
Estudioso dos movimentos da opinião pública, Cesar Maia diz que os humores da população vão "acompanhar a Operação Lava-Jato sempre" e considera difícil haver no Brasil uma reação legislativa como aconteceu contra a Operação Mãos Limpas na Itália, onde o sistema político tratou de neutralizar o poder do Judiciário. "Aquele pacote de leis [anticorrupção] foi devolvido à Câmara e assim começa tudo outra vez, num ritmo mais adequado. Aqui não há ambiente para reversão legislativa", diz, numa referência à decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a volta do projeto à estaca zero.
Na Câmara, Maia afirma que o filho conseguiu pacificar a Casa, depois da presidência polêmica de Eduardo Cunha, que detonou o processo de impeachment e pautou uma agenda conservadora no campo dos valores. "Os resultados das votações têm mostrado isso. A pacificação do plenário como ele prometeu no discurso de escolha do novo presidente está sendo fundamental. Temer tem tido 88% de apoio nas votações. Está tudo indo muito bem. O plenário vota sem as distorções anteriores", diz.
Questionado sobre a disputa de Rodrigo com o Centrão, Cesar Maia prefere não entrar em detalhes. Evita comentar a probabilidade de uma eventual vitória do bloco de legendas considerado fisiológico aumentar a instabilidade do governo Temer.
O ex-prefeito do Rio compara a situação do presidente pemedebista à de Itamar Franco, que chegou ao Planalto, depois do impeachment de Fernando Collor, em 1992, com boa avaliação e a viu minguar "até chegar 13%". "A reversão desse quadro com o Plano Real - um ano e meio depois - mudou tudo. Essa vai ser também a trajetória de Temer", diz.
Ligado à esquerda no início de sua carreira política - foi do PCB e do PDT de Leonel Brizola - Cesar Maia considera que a atual recessão tem origem na crise financeira internacional de 2008 e nos remédios encontrados pelos governos petistas de Dilma e Luiz Inácio Lula da Silva. "Aqui a resposta foi um keynesianismo de consumo com reduções tributárias e ativação da demanda. Lula achou que era uma marolinha. O resultado foi a desintegração fiscal, a perda de competitividade da economia e o retorno da inflação. A eleição de 2014 completou este quadro: valeu tudo para ganhá-la", aponta.
Em sua opinião, porém, a desidratação do PT e de legendas do mesmo campo ideológico nas eleições municipais não significa que a esquerda esteja morta para a corrida presidencial em 2018. "Não me arriscaria a dizer isso. Há um espaço aberto para a antipolítica e o populismo de esquerda", diz.
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