Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - O fortalecimento do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, juntou o que quase duas décadas de disputas internas haviam separado: o chanceler José Serra e o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves. Os dois estão empenhados em conter o avanço de Alckmin sobre o partido e a consolidação de sua candidatura presidencial para 2018, quando faltam ainda dois anos para a sucessão. O embate é acompanhado de perto pelo presidente Michel Temer, pois pode provocar fissuras na base de apoio, num momento em que o governo tenta se firmar.
O PSDB saiu fortalecido das eleições de domingo, mas Alckmin e Aécio, o candidato na eleição presidencial de 2014, tiveram sorte diferente: o governador de São Paulo ganhou com a vitória de João Doria a prefeito, enquanto o presidente nacional do partido não teve como evitar o desgaste da derrota do candidato João Leite, em Belo Horizonte. Os tucanos foram os grandes vencedores das eleições municipais, ganharam em 806 cidades, sendo sete capitais, e vão governar 36 milhões de eleitores - a maioria no Estado de São Paulo -, credenciando-se como principal aspirante a 2018.
Serra e Aécio Neves reconhecem o fortalecimento de Alckmin, segundo apurou o Valor, mas seus aliados dizem que a escolha do candidato do partido não pode ser feita apenas com base nos resultados de domingo. Aécio também quer preservar o comando do PSDB. Serra, influência. Os dois grupos também acham que antecipar a disputa interna pode desestabilizar o governo Temer, de cujo sucesso dependeriam todos que tiraram o PT do Palácio do Planalto e dão sustentação política ao novo governo.
O argumento é que, se o governo fracassar, em 2018 o PSDB e o PMDB podem ser varridos do mapa da mesma forma que o PT foi varrido nessas eleições. O beneficiário não seria o PT, mas nomes como Ciro Gomes, que articula sua candidatura pelo PDT, a ex-senadora Marina Silva (Rede) ou alguém inteiramente fora da política como Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Os exemplos de João Doria, Marcelo Crivella (PRB), no Rio, e Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte, que desbancaram políticos tradicionais, também são citados.
As preocupações de Serra e Aécio são também compartilhadas, segundo as fontes, pelo presidente Michel Temer e pelo ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, partido que teve surpreendente desempenho na eleição municipal, tendo ficado em quarto lugar, em número de eleitores, no primeiro turno. Em maior ou menor escala, os quatro estiveram envolvidos no lançamento da candidatura de Marta Suplicy (PMDB) à Prefeitura de São Paulo, derrotada por Doria.
Uma avaliação comum a tucanos e pemedebistas é que o resultado da eleição municipal deveria levar a uma aliança entre PMDB e PSDB na sucessão. O futuro dessa aliança, no entanto, dependerá do sucesso do governo de Michel Temer, que faz o possível para evitar a antecipação do debate sucessório. Para o Palácio do Planalto, não se toca em eleição presidencial antes do segundo semestre de 2017. O governo pretende votar até junho do próximo ano as reformas que considera necessárias para o ajuste e dar início à recuperação da economia.
Se conseguir alguma reação econômica, os aliados entendem que Temer seria o coordenador da própria sucessão e Alckmin seria considerado como alternativa. Aliados de Alckmin, no entanto, desconfiam que este candidato poderia ser o próprio presidente Michel Temer, tendo um candidato do PSDB como vice. Para tentar controlar o PSDB, os movimentos de Alckmin vão além das articulações no Congresso. O governador teve o cuidado, por exemplo, de telefonar para os prefeitos do partido eleitos, caso de Nelson Marchezan Jr, em Porto Alegre (RS), e frequentemente leva deputados para conversas no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Alckmin também procura consolidar, desde já, o apoio do PSB. Já se fala até numa chapa tendo Alckmin como candidato a presidente e o prefeito reeleito do Recife, Geraldo Julio, como candidato a vice-presidente.
No governo, o receio é que Alckmin antecipe a disputa e tente eleger um aliado para presidente da Câmara e o futuro líder da bancada do PSDB. Os aliados do governo têm dificuldades para aceitar um tucano na presidência da Câmara sob a alegação de que o PSDB já será protagonista em 2018. Temer pediu para os partidos tentarem um acordo em torno de um nome - a coalizão já tem mais de cinco pretendentes. O risco é a disputa acabar como a escolha do candidato do PSDB de São Paulo a prefeito, quando Geraldo Alckmin enfrentou os adversários internos e provocou um racha no partido.
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