Por Maíra Magro | Valor Econômico
BRASÍLIA - O empresário Eike Batista já começou a negociar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro, apurou o Valor. O ex-bilionário está preso preventivamente desde 30 de janeiro em Bangu 9, suspeito de pagar propina ao ex-governador Sérgio Cabral. O ex-diretor jurídico da EBX, Flávio Godinho, que era o braço direito de Eike, também iniciou tratativas para tentar uma colaboração.
Como o Valor mostrou ontem, as ramificações da Operação Lava-Jato no Rio estão gerando uma verdadeira corrida por novas delações, por parte de empresários e políticos citados em investigações ou por outros delatores. Dependendo do resultado das conversas, uma nova leva de acordos pode surgir nos próximos meses, o que desviaria o foco da Lava-Jato de Curitiba para o território fluminense.
Afastados após os escândalos envolvendo o império X, Eike e Godinho entraram nessa corrida e, a depender das conversas, pode ser que apenas uma das duas tentativas de delação chegue a vingar. Se um dos dois contar tudo o que sabe, ao outro restaria pouco o que revelar, diminuindo as chances de o Ministério Público aceitar a delação. Há também a possibilidade, porém, de os dois fecharem delações complementares, a depender dos ânimos dos procuradores. Assim como Eike, Godinho está preso desde janeiro, em Bangu 8.
No caso de Eike, o Valor apurou que as conversas já se iniciaram pelo menos com o MPF no Rio. A Procuradoria-Geral da República (PGR) também terá que ser envolvida, pois o ex-bilionário tem diversas pessoas com foro privilegiado para entregar.
Procurado pelo Valor, o advogado de Eike, Fernando Teixeira Martins, negou que esteja negociando uma delação. "Estamos seguindo com os recursos judiciais, os habeas corpus, e no momento não tem negociação. Eu nunca neguei a possibilidade de negociação no futuro. Mas é necessário que se esgotem os recursos possíveis para que, se ele tem a intenção de delatar, que isso aconteça só mais adiante." O advogado de Godinho, Celso Vilardi, não foi localizado para comentar as informações.
Se a delação premiada se concretizar, Eike pode detalhar questões sobre contratos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal.
Antes mesmo de ser preso, Eike já temia essa possibilidade. No ano passado, ele procurou a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba para prestar um depoimento espontâneo, acreditando que o ato lhe garantiria blindagem. O empresário relatou ter recebido do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 2012, um pedido de R$ 5 milhões para quitar dívidas da campanha de Dilma em 2010. Para realizar o pagamento, contou que fez um contrato falso com uma agência de publicidade do ex-marqueteiro do PT João Santana e transferiu US$ 2,35 milhões no exterior.
Apesar disso, Eike acabou preso em janeiro pela Operação Eficiência da PF. Ele já foi denunciado pelo Ministério Público por corrupção e lavagem de dinheiro, ao lado de Sérgio Cabral - que também está atrás das grades e tenta fechar uma delação.
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