Preso desde novembro sob a acusação de receber propina, Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro pelo PMDB, é personagem de episódios que estão entre os mais caricatos já protagonizados por políticos às voltas com a polícia.
A habitual discrição das contas secretas no exterior cedeu espaço, no caso de Cabral, a vistosos presentes em joias, acumulação de barras de ouro, passeios de helicóptero e festas em Paris.
Os excessos do peemedebista estenderam-se à gestão das contas do Estado, que, depois de anos de expansão irresponsável de gastos, hoje apresentam rombo que não será tapado sem o socorro federal e o sacrifício da população.
O desfecho da crise tornou-se ainda mais nebuloso com o surgimento de novas investigações em torno de descalabros na administração fluminense, não limitados ao Poder Executivo.
Sem relação com os desdobramentos da Lava Jato, a Polícia Federal efetuou a prisão temporária de cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.
Na mesma quarta-feira (29), a PF determinou que o deputado Jorge Picciani (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa, fosse levado compulsoriamente a prestar depoimento às autoridades.
Segundo delação de um conselheiro do TCE, havia esquema de propinas no órgão em troca de uma supervisão benevolente de contratos firmados pelo poder público. Outras irregularidades também teriam sido relatadas.
Não se sabe ao certo, devido ao sigilo da apuração, por que Picciani envolveu-se nas suspeitas. O parlamentar nega ter cometido qualquer ato ilícito.
Fato é que a governabilidade do Estado vê-se mais uma vez comprometida pela ruína do PMDB fluminense —na qual se inclui ainda a derrocada de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, condenado nesta quinta (30) a 15 anos e quatro meses de prisão (cabe recurso da decisão).
Picciani tem servido como o esteio mais importante do governador Luiz Fernando Pezão, a quem toca negociar uma saída para a cenário de calamidade financeira que aflige sua administração.
O presidente da assembleia teve papel decisivo na votação que autorizou a privatização da empresa estadual de saneamento, a Cedae; o próximo desafio legislativo é elevar a contribuição previdenciária dos servidores de 11% para 14%.
As medidas são condições para que o Estado firme acordo com a União e suspenda por três anos o pagamento de sua dívida, que hoje supera o dobro da receita anual.
Atrasos nos entendimentos significam a ampliação do caos vivido pelo Rio, onde a penúria orçamentária já ameaça a saúde, a educação e a segurança pública.
Nenhum comentário:
Postar um comentário