Após 20 meses de resultados negativos desde março de 2015, a indústria voltou a contratar. Em janeiro, foram criados 17.501 postos de trabalho com carteira, indicando o início da retomada. No geral, houve perda de vagas, sendo que 65% delas no Rio.
A retomada da indústria
Fábricas criam 17.501 vagas com carteira em janeiro, com recuperação em vários setores
Geralda Doca | O Globo
BRASÍLIA - A indústria de transformação voltou a gerar empregos em janeiro e fechou o primeiro mês do ano com um saldo líquido positivo de 17.501 postos. Desde março de 2015, o setor vinha apresentando resultados mensais negativos, com exceções pontuais em agosto e setembro do ano passado. Depois disso, os empresários voltaram a demitir. A virada só ocorreu no início de 2017, quando a recuperação na indústria foi disseminada por vários subsetores.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, dez dos 12 subsetores industriais tiveram saldos positivos em janeiro, com destaque para calçados, vestuário, mecânica e metalurgia. As demissões superaram as contratações em apenas dois ramos, produção de alimentos e bebidas e de papel e papelão.
Para governo, especialistas e setor produtivo, isso é um indicativo concreto de que a economia já começou sua retomada. A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), por exemplo, já havia apontado a geração de 6,5 mil empregos na indústria paulista em janeiro.
A indústria voltou a contratar porque tem encomendas, sinal de que o consumo vai aumentar — disse Rodolfo Torelly, especialista do site Trabalho Hoje.
RIO CONCENTROU 65% DAS VAGAS FECHADAS NO PAÍS
Mesmo com o desempenho positivo da indústria na geração de empregos, o mercado formal de trabalho registrou saldo líquido negativo de 40.864 postos em janeiro. O resultado é melhor que o observado no mesmo período do ano passado, que foi de 99.694 vagas fechadas. Ele também é melhor que o de janeiro de 2015, quando o total de demissões superou as contratações em 81.774. Do total de vagas fechadas, 65% foram no Rio, que teve saldo negativo de 26.472.
Segundo o Ministério do Trabalho, a queda no nível do emprego formal no Rio pode estar relacionada ao comportamento dos setores de comércio e de serviços, que fecharam vagas em janeiro. De acordo com o Caged, o comércio registrou, em todo o país, saldo negativo de 60.075, principalmente no setor varejista, seguido pelo setor de serviços, que fechou 9.525 postos.
No ramo de serviços, os cortes foram maiores na área de transporte e comunicações, na qual foram eliminados 10.235 postos com carteira assinada. Outro subsetor em que as demissões superaram as contratações foi o de hotéis e restaurantes, com resultado negativo de 7.129 empregos.
Apesar da crise no setor da construção civil no país, o segmento eliminou apenas 775 contratações no primeiro mês do ano. No mesmo período do ano passado, o segmento havia eliminado 2.588 postos. Já a agricultura registrou saldo positivo de 10.663 empregos, influenciada pelas culturas de soja, no Mato Grosso, e de frutas, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A administração pública também contratou em janeiro e respondeu por 671 vagas com carteira assinada.
Para o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, a indústria deve puxar as contratações com carteira assinada ao longo de 2017. A partir de abril, destacou ele, o Caged já deverá vir com saldo positivo na geração de empregos:
— A indústria veio com saldo positivo em janeiro, o que sinaliza uma recuperação da economia.
O comportamento do mercado de trabalho em janeiro já era esperado por analistas. Para eles, embora haja expectativa de uma retomada a partir de abril, é provável que o ano acabe ainda com saldo negativo. Esse montante deve ser inferior ao registrado em 2016, quando foram perdidos 1,3 milhão de postos de trabalho.
— Apesar da longa série negativa de perdas de postos de trabalho, o mês de janeiro apresentou um resultado dentro das expectativas do mercado, com redução das perdas e alguns sinais pontuais positivos, como o crescimento do emprego na indústria e a calmaria na construção civil — explicou Torelly.
Na comparação entre as regiões, somente Sul e Centro-Oeste geraram empregos; as demais perderam, sendo o Nordeste a região que mais demitiu, com saldo negativo de 40,8 mil postos. Entre os estados, Santa Catarina foi o que mais contratou, com saldo positivo de 11,2 mil vagas; seguido por Mato Grosso, com 10 mil empregos; e Rio Grande do Sul, com mais 8 mil postos.
Em janeiro, as oportunidades de emprego foram concentradas nas cidades do interior. Já nas nove regiões metropolitanas, houve fechamento de vagas — num total de 49.972, sobretudo nas capitais, como Rio, Recife, São Paulo. As exceções foram Curitiba e Porto Alegre.
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