- Folha de S. Paulo
O governo do presidente Michel Temer está convencido de que a reforma da Previdência enviada ao Congresso é a ideal. Põe pressão para que o texto seja aprovado na Câmara e no Senado até o final deste semestre. Mobiliza ministros e líderes governistas para exigir, desde já, lealdade da hoste aliada.
Na ata da última reunião, o Copom voltou a cobrar reformas estruturais para que o país possa alcançar taxa de juros civilizada, demonstrando preocupação particular com a aprovação das mudanças no sistema de aposentadorias e pensões.
Sem essas alterações, a regra do teto de gastos públicos vira letra morta. Os desembolsos com a Previdência cresceriam exponencialmente e achatariam as demais despesas. Nos cálculos do Ministério da Fazenda, esses pagamentos consumiriam cerca de 17% do PIB até 2060.
Para a comissão especial que discute a PEC previdenciária, a reforma de Temer é tudo, menos ideal. Dos 36 integrantes do colegiado, 34 acreditam que o texto elaborado pelo Palácio do Planalto precisa ser modificado, segundo enquete realizada por esta Folha. Pelo menos quatro pilares da proposta são atacados pela maioria da comissão e metade do grupo é contra a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres.
Versado no jogo parlamentar, o presidente sabe que precisará negociar muito. E ceder. É jogando que ele diz ser terrorismo afirmar que deputado ou senador não será reeleito se votar pelo endurecimento das aposentadorias. Ele próprio foi relator da reforma da Previdência de Fernando Henrique Cardoso e acabou se reelegendo com mais votos.
No mundo financeiro, já há quem ache útil um outro tipo de terrorismo. Se o placar pró-reforma não ganhar mais partidários com o avanço da tramitação, o mercado pode passar a precificar o risco (improvável) de não aprovação. Volatilidade no câmbio, na Bolsa, nos juros futuros daria munição poderosa para Temer dissuadir sua base infiel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário