O país está em um ciclo de escândalos, mas também de fortalecimento das instituições, o que dá segurança à sociedade diante das novas denúncias
A primeira lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, conhecida em março de 2015, com nomes da Lava-Jato abrigados no foro especial do Supremo, gerou grande expectativa. Era, enfim, a leva inicial de políticos apanhados na investigação do petrolão, um esquema que tornaria o mensalão do PT algo menor.
Aproxima-se o encaminhamento ao STF da segunda lista de Janot, referente às delações da Odebrecht A expectativa, dessa vez, é menos quanto a nomes e mais em relação ao conteúdo dos 78 depoimentos da cúpula da empreiteira.
Os vazamentos já verificados e o que se soube do depoimento de Marcelo Odebrecht à Justiça eleitoral, quarta-feira em Curitiba, onde está preso, no processo que o PSDB move contra a chapa Dilma-Temer, confirmam o estado de putrefação do subsolo das finanças da política em eleições —, e não apenas nelas. Sem usar o termo chulo aplicado pelo senador Romero Jucá, da primeira lista de Janot e nome certo na segunda, o relacionamento indevido, por ilegal e sem ética, entre empreiteiras e políticos, que emerge de depoimentos e delações, se assemelha mesmo àquelas festas despudoradas em que ninguém é de ninguém.
No testemunho de quarta, Marcelo confirmou o pedido de dinheiro pelo ainda vice-presidente Temer, em jantar no Palácio do Jaburu, para financiar o PMDB nas eleições de 2014. Depois, ficou definido que seriam R$ 10 milhões, com outro participante do encontro, o futuro ministro Eliseu Padilha, hoje em convalescença de cirurgia em Porto Alegre, de onde pode não voltar para a Casa Civil. O Planalto comemora porque considera que a versão do presidente para o encontro — Temer diz que não pediu dinheiro para caixa dois — se confirmaria. Aparentemente sim, mas ainda há tanto o que acontecer, que é sensato não festejar.
O depoimento causa avarias na imagem da ex-presidente Dilma, devido à revelação de Marcelo de que ela sabia das transações tenebrosas que começaram a ser feitas entre Antonio Palocci e a empresa, incumbência, depois que este saiu da Casa Civil de Dilma, passada para Guido Mantega, ministro da Fazenda. Eram o “Italiano” e o “Pós-Itália” das planilhas do "Departamento de Operações Estruturadas” da empreiteira, nome pomposo que designava a seção de propinas da Odebrecht. Para o PT foram destinados, entre 2008 e 2014, R$ 300 milhões, segundo Marcelo, algo como US$ 100 milhões, cifra polpuda em qualquer lugar do planeta. Cresce a suspeita de que o PT vendeu o governo a empreiteiras.
Houve até a “compra” de uma medida provisória, na gestão Dilma, por R$ 50 milhões, para criar um programa de refinanciamento de dívida tributária de interesse da empresa. Mais um envolvimento de governo lulopetista com negociatas em torno de MPs. E o caráter eclético da atuação da Odebrecht no mercado da política fica reforçado com a citação de Aécio Neves, presidenciável tucano em 2014, também ajudado pela empreiteira.
O Brasil está em um ciclo de escândalos e também de fortalecimento das instituições republicanas. Poderosos têm sido julgados e punidos. Também transcorreram dois impeachments desde 1992, sem hecatombes. Não há, portanto, motivos para maiores apreensões com o que vem por aí.
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