Jean-Luc Mélenchon, candidato da 'França Insubmissa', é o que mais sobe nas pesquisas a duas semanas do fim da campanha para o primeiro turno; oito pontos porcentuais separam o primeiro do quarto colocado
Andrei Netto | O Estado de S. Paulo
PARIS - O candidato de esquerda radical Jean-Luc Mélenchon é o novo fenômeno da eleição presidencial na França, que está cada mais vez imprevisível. Antes situado em quinto lugar nas pesquisas eleitorais, o dissidente do Partido Socialista (PS) aparece agora em empate técnico com o conservador François Fillon (Republicanos), em terceiro.
Se sua curva de crescimento for mantida, o candidato disputará um lugar no segundo turno com o social-liberal Emmanuel Macron (En Marche) e a nacionalista Marine Le Pen (Frente Nacional).
Mélenchon é uma personalidade política conhecida dos franceses. Membro do PS desde 1976, o ex-ministro no governo do primeiro-ministro Lionel Jospin abandonou o partido em 2008, inconformado com a guinada da legenda em direção ao centro-esquerda.
Então, "por fidelidade a seus compromissos" e para "não conceder nada à direita", ele fundou o Partido de Esquerda, de esquerda radical. Polêmico, não hesita em defender o regime castrista em Cuba, como fez em 2011, ao dizer que "não é uma ditadura", ainda que "certamente também não uma democracia".
O radical de esquerda também afirma "observar com interesse" os governos de esquerda na América Latina, enumerando os casos da Bolívia de Evo Morales e da Venezuela, à época de Hugo Chávez.
Partidário de mais intervenção do Estado na economia e de um plano de investimentos de estilo keynesiano, Mélenchon também promete retirar a França de todos os tratados que regem a União Europeia, renegociando a participação do país no bloco – uma estratégia destinada a forçar a Alemanha a abandonar a política de austeridade fiscal. Pouco afeito a Bruxelas, o candidato também ameaça abandonar a zona do euro.
Em sua terceira candidatura presidencial, Mélenchon começou baixo nas pesquisas eleitorais, chegando no pior momento a um desempenho médio de 10% dos votos. Mas, graças à fraqueza do candidato do PS, Benoit Hamon, que não tem o apoio integral nem mesmo de seus correligionários – muitos dos quais apoiam Macron –, o candidato do movimento França Insubmissa agora tem chances concretas de chegar ao segundo turno. Dono de uma eloquência oral ímpar, que lhe valeu desempenhos acima da média nos dois debates realizados até aqui, o radical não para de subir nas pesquisas.
Sondagem do instituto Harris Interactive para a rede pública France Télévisions indicou na noite de ontem a aproximação entre os quatro primeiros que concorrerão ao Palácio do Eliseu em 23 de abril. Macron aparece em primeiro, com 25%, em empate técnico com Marine Le Pen, que tem 24% das intenções de voto.
Em terceiro lugar aparece o ex-primeiro-ministro e ex-favorito François Fillon, que, abalado pelas denúncias de corrupção, não ultrapassa a barreira de 18% de apoio. Mélenchon aparece logo atrás, com 17%. Nas duas últimas semanas, o radical de esquerda ultrapassou o socialista, seu arquirrival, e vem abocanhando parte de seu eleitorado.
"Não podemos excluir que Mélenchon ultrapasse François Fillon graças a uma dinâmica consistente e um debate bem-sucedido aos olhos dos telespectadores", diz Jean-Daniel Lévy, analista do instituto Harris Interactive.
Para o movimento France Insubmissa, a performance de seu candidato se explica em parte graças por sua rigidez moral, evidenciada mais uma vez quando se recusou a fazer um acordo em favor de Benoit Hamon no momento em que o socialista estava à frente. "Não havia acordo possível", diz sua porta-voz, Danielle Simonnet. Mélenchon, inclusive, não perde oportunidade de disparar contra o PS, legenda que ele pretende desbancar como referência da esquerda na França. "Se eu tivesse uma estima elevada do Partido Socialista, eu não o teria deixado em 2008", ironizou o candidato em entrevista à rádio Europe 1.
Superado o primeiro desafio, o radical de esquerda agora tem como alvo suplantar Fillon, assumindo o terceiro lugar, de forma a entrar na briga por um lugar no segundo turno. Mélechon, que também tem em Marine Le Pen uma rival histórica, já não hesita em atacar a nacionalista, e tem advertido o eleitorado: "Eu estou pronto para governar".
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