Lucas Vettorazzo | Folha de S. Paulo
RIO - O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), disse nesta quinta-feira (6) ao juiz federal Sergio Moro que o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, também peemedebista, nunca mencionou cobrança de propina a empreiteiras com contrato de obras no Estado.
Pezão, que foi vice-governador de Cabral por dois mandatos e seu secretário de obras, prestou depoimento como testemunha de defesa em processo em que Cabral é réu por suspeita de corrupção em caso de desvio de verbas de obras da Andrade Gutierrez.
Pezão esteve na sede da Justiça Federal do Rio e falou ao juiz por meio de videoconferência.
O depoimento foi breve –cerca de oito minutos e meio– e Pezão respondeu a questionamentos da defesa de Cabral e do Ministério Público.
A defesa o questionou se Cabral já havia mencionado em algum momento cobrança indevida a empresas que tinham contrato com o Estado.
"Comigo, nunca", respondeu Pezão.
"Cabral já interferiu na escolha de empresas em processos licitatórios? Havia interferência de membros da comissão de licitação?", questionou a defesa do ex-governador. Pezão respondeu negativamente às duas perguntas.
A defesa então questionou se Cabral dava autonomia aos seus secretários.
"Total. [A] Todos os secretários ele [Cabral] dava autonomia para escolher as pessoas [com] que iriam trabalhar", disse Pezão.
O governador foi questionado se já estivera em reuniões com Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino da Petrobras, que fechou acordo de delação premiada na Lava Jato. Costa teria dito em delação que discutiu doação por meio de caixa dois a campanha de Cabral em 2010.
Pezão negou ter conhecimento da reunião, mas afirmou que já esteve na presença do então diretor diversas vezes, para discutir licenças e projetos de abastecimento de água para a região do Comperj, refinaria da Petrobras cuja construção está parada em Itaboraí, região metropolitana do Rio.
Segundo Pezão, diversos secretários participavam destas reuniões e que ele esteve em diversas, tanto na condição de secretário de Obras quanto no cargo de coordenador de infraestrutura do governo, cargo que passou a exercer em 2011.
OPERADOR
Encerradas as perguntas da defesa, o Ministério Público dirigiu um questionamento ao governador a respeito de Carlos Miranda, preso acusado de fazer parte do suposto esquema liderado por Cabral.
O governador foi questionado se conhecia Carlos Miranda e sabia que ele gerenciava parte da vida financeira de Cabral.
"Conheci [Miranda] diversas vezes com a turma do Sérgio [Cabral] que participou das campanhas de 2007, eu era vice, e depois em 2010. Eram amigos dele. O encontrava em confraternizações e festas".
Sobre a gestão financeira da vida de Cabral, Pezão disse desconhecer.
"A vida pessoal do governador eu não conheço", disse.
Cabral está preso desde dezembro passado, em razão das investigações da operação Calicute, desdobramento da Lava Jato no Rio.
O grupo de Cabral é acusado por suspeita de cobrar propinas que variavam de 1% a 5% sobre o valor de obras no Estado. Há a suspeita de que foram desviados cerca de R$ 224 milhões em contratos.
Em dezembro, Cabral se tornou réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O processo para o qual Pezão prestou depoimento refere-se às suspeita de que Cabral teria recebido R$ 2,7 milhões em propina da Andrade Gutierrez em obra de terraplanagem do Comperj. O processo corre na Justiça Federal em Curitiba.
Cabral é réu em outros cinco processos na Justiça Federal do Rio.
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