Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Em lançamento do terceiro volume de seus "Diários da Presidência", no Rio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, afirmou que "a pinguela", como já se referiu ao governo de Michel Temer, não diz respeito ao atual presidente da República mas ao período de transição para se chegar à eleição de 2018. "Eu não disse isso para dizer que ele é pinguela, mas que estamos começando numa pinguela. Se a pinguela tombar, cai na água, então... Mas a pinguela não é destino, é caminho", afirmou, ao ser questionado pela jornalista Miriam Leitão, colunista do jornal "O Globo", sobre o cenário para o país nos próximos anos.
Em seguida, o tucano destacou que "o destino é 2018" e que é preciso criar condições, no ano que vem, para que se eleja alguém capaz de dar algum rumo ao Brasil. "Ou você vai ter eleição, elege A, B, C ou D e... dá na mesma, porque não são capazes de realmente transmitir ao país entusiasmo necessário", disse.
Fernando Henrique afirmou que a polarização entre PT e PSDB é uma briga que sempre foi "eleitoreira", mais do que ideológica, e que isso levou os dois partidos a buscarem apoio onde é possível. "Onde é possível deu no que deu. Deu numa tragédia nacional", afirmou, ao criticar a "corrupção institucionalizada".
O tucano disse que nunca incentivou essa visão antagônica, com ódio, "nem mesmo contra os que são de direita".
FHC propôs que ambos os lados baixem a guarda. "Vou dizer uma coisa que pode me custar caro: nós só vamos sair de onde estamos, que é uma coisa meio emburacada, se criarmos de novo um ambiente que permita um jogo de divergência e não o ódio. O ódio não leva a nada, leva à paralisação", disse, despertando aplausos na plateia de cerca de 50 pessoas que compareceu à livraria no Shopping Leblon, na zona sul da cidade.
FHC fez mais acenos ao PT e ao ex-presidente e adversário Luiz Inácio Lula da Silva. Quando comentava a sua relação com autoridades e políticos de diversos países, como o ex-presidente americano Bill Clinton, Fernando Henrique citou o peso internacional do petista. "O Lula já era presidente eleito, ia viajar e disse: 'Eu conheço mais o mundo do que essa gente'. É verdade. Como líder sindical, ele andava pelo mundo. Podia não ser fluente na língua deles. Não é isso que estou falando. Ele tinha capacidade de se relacionar. Eu não quero comparar com outros, que não têm a mesma capacidade, mas é verdade. Quando você tem essa capacidade, facilita obviamente as coisas", disse.
Sobre a dificuldade que Temer tem tido para aprovar a reforma da Previdência, FHC lembrou que a idade mínima, em seu governo, não passou por apenas um voto, mas que se fez, em seguida, o fator previdenciário. "Alguma coisa se consegue. Agora, as coisas podem andar pra trás. Nenhum país está destinado a avançar", disse.
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