A guerra civil síria, conflito bárbaro que já ceifou meio milhão de vítimas, acaba de entrar em um novo e perigoso capítulo.
Os Estados Unidos, relutantes desde a gestão Barack Obama quanto a seu envolvimento na carnificina, dispararam seu primeiro ataque contra as forças do ditador Bashar al-Assad na noite desta quinta-feira (6).
Foi uma dramática e inesperada ofensiva, em resposta a episódio que gerou justa comoção internacional. Em um ataque com artefatos químicos, dezenas de pessoas da cidade de Khan Sheikhun, controlada por opositores de Assad, foram mortas.
Autópsia realizada em vítimas comprovou a presença de material tóxico, embora o comando militar do país continue a afirmar que não lança mão de armas dessa espécie.
A reação de Trump –lançar quase 60 mísseis de cruzeiro contra uma base aérea do governo sírio– coroou uma série de declarações crescentemente belicosas de integrantes de sua administração.
Até então, o republicano havia sinalizado que manteria relativa distância da situação e não consideraria o afastamento de Assad prioridade. Foi o que afirmou na semana passada, antes do ataque, a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley.
Embora não tenha adiantado que tipo de reação seria previsível, Trump relembrou as hesitações de seu antecessor, Barack Obama, que sofreu críticas nos EUA e em outros países por ter se omitido quando teve oportunidade de intervir.
Trump não perdeu a oportunidade de demonstrar força diante de um adversário enfraquecido. Atropelando protocolos de consultas congressuais, ordenou um ataque com potencial de antagonizá-lo com o presidente russo, Vladimir Putin.
A intervenção da Rússia na guerra síria se deu, em larga medida, devido à inação americana na região.
Ao ingressar em 2015 no conflito, o Kremlin logrou manter no poder o aliado de longa data em Damasco; ademais, ganhou pontos como ator internacional relevante justamente no momento em que era questionado por sua ação na Ucrânia.
A guerra civil na Síria se estende há seis anos com a participação de diferentes grupos. Além das forças governistas, os conflitos envolvem islamitas moderados e extremistas, a facção terrorista Estado Islâmico e os curdos. Assad é rejeitado pela aliança ocidental, mas conta com apoio da Rússia e do Irã.
A situação já provocou uma tragédia humanitária, levando milhões de pessoas a buscar refúgio em países da região e em outros continentes, em especial a Europa.
Essa impressionante migração em massa tem causado repercussões drásticas. Em diversos países os refugiados são vistos como intrusos indesejáveis e seu afluxo é alvo de políticos xenofóbicos.
O próprio Trump, que agora se diz horrorizado com a morte de crianças no ataque químico, vem tentando, sem sucesso, suspender a entrada de sírios nos EUA. Salvo algum acordo inesperado com Putin, o americano deu agora um passo rumo ao desconhecido.
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