O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu, no último fim de semana, a etapa mais difícil de suas viagens pelo país, neste ano. Depois de percorrer o Nordeste e Minas Gerais, o ex-presidente, desta vez, se aventurou nas terras do Espírito Santo, onde o PT é praticamente inexistente, e do Rio de Janeiro, onde ganhou com folga as eleições para seus dois mandatos e ajudou a eleger Dilma Rousseff e o ex-governador Sérgio Cabral, mas agora apenas disputa a primazia das pesquisas com o ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro, deputado que está de saída do PSC para o Patriotas (PEN).
As Caravanas da Cidadania realizadas nas presidenciais em que o PT estava na oposição, antes de 2002, tinham um certo romantismo e serviram para que Lula mostrasse o que a esquerda tinha a oferecer ao país, caso chegasse ao Palácio do Planalto. Atualmente, não são uma sombra do que já foram e servem mais para confundir do que para explicar as razões pelas quais Lula quer um terceiro mandato - o quinto do PT - de presidente. À frente da trupe, Lula não hesita em distorcer fatos e posar de vítima, papel que desempenha como ninguém.
Em Vitória, Lula disse que quer voltar à Presidência sendo o "Lulinha Paz e Amor", personagem criado na campanha de 2002 pelo publicitário Duda Mendonça, a fim de suavizar a imagem do sindicalista radical que o levara a perder as três eleições presidenciais anteriores. "Em 2002, eu precisei dizer que era 'Lulinha paz e amor' para ganhar a eleição", disse Lula. "Escrevi uma Carta ao Povo Brasileiro para ganhar a eleição. Quero dizer que continuo 'Lulinha Paz e Amor'. Quero voltar sendo 'Lulinha Paz e Amor'".
Difícil entender o que Lula quer dizer ao afirmar que voltará a ser o "Lulinha Paz e Amor". Em 2002, a pincelada que Duda Mendonça deu no retrato do ex-sindicalista ganhou credibilidade porque foi acompanhada dos movimentos que Lula fez em direção ao centro político, desde a escolha de um empresário como candidato a vice, até a carta aos brasileiros, na qual se comprometeu a respeitar contratos e abraçou o mercado.
As caravanas hoje parecem mais próximas - e às vezes até à esquerda - do Lula de 1989, quando a Fiesp ameaçava com a debandada em massa dos empresários do país, se aquele sindicalista irado e barbudo fosse eleito. O ex-presidente hoje fala até em um certo "referendo revogatório" para desfazer as medidas liberais adotadas por Michel Temer após o impeachment, apontadas, em grande parte, como responsáveis pela recuperação da economia, segundo afirmam empresários consultados. Ou tudo não passa de um lance demagógico e Lula pensa dizer uma coisa na campanha e fazer outra no governo? Não deu certo com Dilma Rousseff.
Lula não explica também como será candidato a presidente se for barrado por uma decisão da Justiça. "Não fiquem com essa bobagem de que o Lula não vai ser candidato", disse em suas andanças. "Vou ser candidato e vou ganhar as eleições". Lula se refere, certamente, à infinita possibilidade de recursos legais à sua disposição, mesmo se vier a ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Não é possível que esteja pregando o descumprimento de eventual decisão dos tribunais que o desfavoreça.
É o que se espera, mas não é o que Lula dá a entender. Num dos piores momentos da caravana, o ex-presidente cometeu o despautério de dizer que a situação de penúria em que se encontra o Rio deve-se à Operação Lava-Jato. Como se não bastasse, ainda passou a mão na cabeça dos três ex-governadores encarcerados no Complexo Penitenciário de Gericinó - que se chamava Bangu, mas hoje ostenta esse nome a pedido da honesta população do bairro, envergonhada por hospedar a fina flor da roubalheira que - esta sim - fez mal ao Rio.
Não é de agora que o PT tenta associar a Lava-Jato a uma mega-conspiração mundial para se apropriar do pré-sal. "A Lava-Jato não pode fazer o que está fazendo com o Rio", disse Lula a trabalhadores hoje desempregados não por causa da operação que desvendou um dos maiores esquemas mundiais de corrupção, como o ex-presidente quer fazer crer, mas devido a políticas equivocadas, que já não deram certo no passado, e ao Petrolão.
Cereja do bolo, Lula disse que o Rio "não merece ter governadores presos porque roubaram". Na mesma frase, o ex-presidente disse nem sempre acreditar na imprensa. Deve imaginar que foram montagens as cenas do foguetório com que os cariocas festejaram nas ruas as prisões do ex-governadores.
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