Talita Fernandes, Bruno Boghossian, Daniel Carvalho e Thais Bilenky/Folha de S. Paulo, 10/12/2017
BRASÍLIA - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumiu neste sábado (9) o comando do PSDB com um aceno ao governo Michel Temer (PMDB) em um esforço para manter canais abertos para uma aliança em torno de sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2018.
Com ataques ao PT, o paulista foi eleito presidente da sigla em um evento que abafou as cobranças de grupos tucanos que defendiam um rompimento contundente da sigla com Temer.
Os principais críticos do governo, em especial a ala de deputados mais jovens, ficaram apagados durante a convenção.
Em seu discurso, Alckmin poupou Temer de críticas e chegou a enaltecer o trabalho do presidente pela aprovação de reformas econômicas.
"Registre-se os esforços do atual governo, que pouco a pouco começa a reversão da tragédia econômica em que o país foi colocado", disse o governador paulista.
O gesto de Alckmin, embora tímido, contém uma mudança de tom e de estratégia em relação a sua candidatura presidencial. O tucano planejava se manter afastado do PMDB de Temer e de parte das siglas de sua base, por considerar que a impopularidade do presidente prejudicaria sua campanha.
Agora, aliados do governador paulista já admitem uma aproximação com esses partidos para construir uma aliança mais ampla e evitar o lançamento de uma candidatura alternativa no bloco da centro-direita –como a do ministro Henrique Meirelles (Fazenda).
Alckmin disse em entrevista após o evento que só pretende discutir a formação de alianças após a confirmação de seu nome como candidato ao Planalto, o que deve ocorrer até março.
Segundo auxiliares, o governador estuda marcar um encontro com Temer nas próximas semanas para discutir a posição do PSDB na reforma da Previdência. Seria seu primeiro movimento para manter a interlocução com o presidente.
FOCO
Ao poupar o atual governo, Alckmin centrou seus ataques no PT e no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje líder nas pesquisas para a eleição de 2018. Disse, conforme antecipou a Folha, que "Lula quer voltar à cena do crime".
"Será que os petistas merecem nova oportunidade?", questionou. "Nós os derrotaremos nas urnas."
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez coro com o discurso do governador e lembrou ter derrotado o petista duas vezes em eleições. "Eu prefiro combatê-lo na urna do que vê-lo na cadeia", completou.
Os tucanos responsabilizaram os petistas pela recessão econômica dos últimos anos e pelo desemprego –que consideram que será um dos pontos centrais da próxima campanha.
"O Brasil vive uma ressaca. Descobriu que a ilha da fantasia petista nunca foi a terra prometida", disse o governador.
DIVISÕES
A chapa encabeçada por Alckmin foi eleita para comandar o PSDB por 470 votos favoráveis e só três contrários, mas as divisões internas da sigla permanecem vivas.
O governador paulista montou uma cúpula partidária para contemplar diversos grupos da legenda. O primeiro da linha sucessória será o governador de Goiás, Marconi Perillo, hoje próximo ao senador Aécio Neves (MG), seguido do deputado Ricardo Tripoli (SP), ligado a Tasso Jereissati (CE). Com isso, Alckmin distribuiu os postos entre as duas alas que protagonizaram conflitos recentes no PSDB.
O governador paulista hesitava em intervir na disputa entre os dois, mas se convenceu a fazê-lo para evitar um racha no partido que pudesse prejudicar sua candidatura à Presidência da República.
Além disso, Alckmin pretendia sair da convenção deste sábado consagrado como o candidato tucano ao Planalto, mas seus planos foram frustrados pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, que discursou anunciando sua pré-candidatura.
"Terei a honra para enfrentar e derrotar Geraldo Alckmin na disputa pela Presidência da República", disse o prefeito.
Vaiado por militantes, ele reagiu com ironia, citando o pré-candidato Jair Bolsonaro (Patriota). "Muito bem. Vaiem à vontade. Mas acho de mau gosto vaiar a mim. Vaiem o Bolsonaro. E me aplaudam se eu derrotar o Geraldo Alckmin na convenção do partido."
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