Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Eleito presidente do PSDB, Geraldo Alckmin corre contra o tempo para firmar sua candidatura ao Planalto. Até março, precisa recompor o PSDB, vencer desconfianças de potenciais aliados como DEM e PMDB, para ganhar tempo na TV, e evitar uma debandada de tucanos na janela de março para o troca-troca partidário.
O governador de São Paulo terá tempo mais curto do que esperava. Ele queria sair com a candidatura definida da convenção de sábado, mas esbarrou na obstinação do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, de disputar uma prévia para a indicação. A proposta teve o endosso de FHC e Tasso Jereissati.
Alckmin assume presidência do PSDB, mas divisões no partido persistem
Eleito presidente do PSDB, o governador paulista Geraldo Alckmin agora corre contra o tempo para firmar sua candidatura ao Palácio do Planalto. Até março de 2018, Alckmin precisa não apenas recompor o PSDB, como vencer a desconfiança de potenciais aliados como o DEM e o PMDB, partidos com grande tempo de rádio e televisão, e evitar uma debandada de tucanos na janela prevista para março para o troca-troca partidária. Nesse período, Alckmin sobretudo deve crescer nas pesquisas, onde frequenta a faixa dos 8%, e mostrar que pode ser um candidato efetivamente competitivo.
O governador de São Paulo terá um tempo mais curto que esperava. Ele queria sair com a candidatura definida da convenção que o elegeu no último sábado, por 470 votos a três, mas esbarrou na obstinação do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, de disputar uma prévia para a indicação do candidato. A proposta da prévia teve o endosso, entre outros, de Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e dele próprio, Alckmin, mesmo a contragosto.
A convenção percorreu o roteiro da divisão e das questões que fragilizam o partido e a candidatura Alckmin. Em seu discurso inaugural, Alckmin assestou as baterias em direção de Luiz Inácio Lula da Silva e ignorou o vice-líder nas pesquisas Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Demorou, talvez até pela condição de ainda não ser o candidato. Mas o discurso soou falso. Alckmin disse que Lula queria voltar "à cena do crime". Teria sido mais verdadeiro se o presidente escorraçado do PSDB, Aécio Neves, não tivesse saído de fininho pela porta dos fundos.
O constrangimento dos tucanos ficou evidente nas vaias que Aécio recebeu dos convencionais. O senador mineiro foi aconselhado a não comparecer, mas resolveu correr o risco e chegou cercado de uma claque aos gritos de "Aécio, Aécio, Aécio" que não foram suficientes para apupos da parte do plenário destinados aos convencionais. Aécio, acusado de pedir uma ajuda de R$ 2 milhões, nem sequer foi chamado para compor a mesa. Chegou, escondeu-se atrás de um telão e foi embora depois de cumprimentar Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, que chegaram logo depois.
Na pauta da convenção havia três propostas de mudança do estatuto partidário: a criação do cargo de primeiro-vice-presidente, as prévias e a criação de uma diretoria de "compliance" para cuidar que o PSDB não enverede pelos caminhos do malfeito e tratar de casos como o de Aécio. A única mudança votada foi a criação da primeira-vice-presidência, para abrigar na nova Executiva o governador de Goiás, Marconi Perillo. O PSDB alega que não há experiência de "compliance" em partidos no mundo todo.
Outro item da reforma do estatuto ignorado foi a prévia. Ou seja, a prévia a ser disputada entre Alckmin e Arthur Virgílio - não será surpresa se aparecerem mais candidatos - terá as regras estabelecidas já pela nova direção do PSDB, comandada por Alckmin. Virgílio quer uma prévia com 1,2 milhão de filiados, o que Alberto Goldman, o presidente em exercício até sábado, diz não haver condições técnicas para fazer. É um embaraço a mais para Alckmin resolver. Virgílio é um osso duro de roer - ele começou sob vais o discurso no qual afirmou que disputará e vencerá a prévia contra Alckmin e terminou aplaudido. Moderadamente.
A prévia é outra questão no discurso de Alckmin que colide com a prática: na véspera da convenção, o governador se reuniu com o prefeito em um gabinete do Senado. As tratativas para que Virgílio desistisse foram até as 22h. Em um dado momento, Alckmin saiu da sala batendo porta. Com força. Quem conhece bem o governador paulista disse que nunca o viu tão bravo. Em seu discurso, Alckmin não teve outra saída a não ser apoiar a prévia.
Na fogueira das vaidades, José Serra não quis falar antes do prefeito João Doria, que continuou sendo aclamado por militantes quase uma hora depois do encerramento da convenção. O senador Tasso Jereissati, escolhido por Alckmin para presidir a fundação do PSDB, deixou a convenção sem saber se o posto é seu ou não: seu nome não foi anunciado entre os novos dirigentes, supostamente porque sua designação ainda dependeria da aprovação de um conselho. Na prática, mais uma miudeza tucana - a passagem de Tasso pela presidência interina do PSDB que desagradou muita gente. Tasso e Aécio não se falam.
Perillo, Virgílio e FHC foram os que defenderam com mais ênfase a votação da reforma da Previdência, mas não causaram maior comoção nos mais de 400 convencionais. No discurso da posse, Alckmin foi protocolar, falou em equiparar o regime geral da previdência com o do servidor público. Mais tarde, em entrevista, defendeu o fechamento de questão na votação do projeto do governo. Trata-se do primeiro desafio do novo presidente, de vez que a bancada do PSDB na Câmara é refratária à proposta.
O contencioso tucano é amplo e precisa ser resolvido rapidamente para que Alckmin concentre energia na eleição. O PSDB corre sério risco de isolamento, principalmente se o governador paulista não melhorar nas pesquisas. O DEM, partido esperado na coligação alckmista, não enviou representante à convenção. Uma ala importante da sigla ainda quer esperar para ver se Alckmin decola nas pesquisas. Em seu discurso, o governador fez acenos ao PMDB, que também não deu as caras. Pior ainda: há bancadas do PSDB sob forte ataque especulativo de outros partidos e pode acontecer uma revoada de tucanos na janela que em março vai permitir a troca de partido.
Alckmin é o favorito disparado à indicação do PSDB, mas ainda precisa provar que é a opção certa do centro político para vencer Lula e Bolsonaro. (colaboraram Vandson Lima e Marcelo Ribeiro)
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