- Folha de S. Paulo
O príncipe volta para casa na terça (19). Marcelo Odebrecht, o preso mais importante da Lava Jato, deixa Curitiba após dois anos e meio de encarceramento.
Bom momento para alguma perspectiva histórica. Quem relê a Folha do dia da prisão é lembrado de que a defesa classificava a detenção como desnecessária e injusta (e o juiz Sergio Moro aparecia criticado como se sua decisão absurda fosse).
Depois disso o herdeiro da Odebrecht foi condenado a dez anos de prisão, tendo feito acordo de delação descrevendo crimes bilionários.
Os crimes, afinal, compensaram?
Do ponto de vista humano é impossível medir. Só quem ficou em cana sabe o que é isso. Os dramas familiares renderiam uma novela, mas seria injusto imputá-los à corrupção.
Do ponto de vista da empresa é possível fazer cálculo mais objetivo.
Quem leu a Folha na quarta (13) soube que perícias oficiais mostram superfaturamento de R$ 10 bilhões em obras da Odebrecht, mais do que os R$ 6,8 bilhões que a construtora prometeu devolver ao erário.
E esses números nem contam toda a história dos danos causados.
Um exemplo é o estádio mais caro da Copa, o Mané Garrincha, que não leva a assinatura da empresa. Segundo delatores, houve um acerto com a Andrade Gutierrez, que tocou a obra de R$ 1,6 bilhão: a Odebrecht apresentaria em Brasília uma proposta de cobertura (para perder a licitação), permitindo o sobrepreço da vencedora, e ficaria com o caminho livre na Arena Pernambuco, onde assumiria a operação do estádio.
A força-tarefa da Lava Jato diz que firmou o acordo possível com a Odebrecht, sem focar o dano efetivo.
Neste momento, enquanto Marcelo volta para a mansão em São Paulo, sua empresa continua tocando obras públicas e o governo do DF procura alguém para assumir o elefante branco em Brasília. Ninguém há de dizer que foi o crime perfeito porque isso, como se sabe, não existe.
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