Após tentar conter a divisão do comando tucano, FH diz que não é fundamental aliança nacional com o PMDB, admite que o efeito Aécio prejudica o partido e não afirma se haverá julgamento moral de Temer
Flavio Freire e Silvia Amorim / O Globo
“O PSDB tem condição de fazer alianças. Não precisa ficar refém do PMDB. Se entrar em vale tudo, vai perder a eleição por causa da questão moral que existe hoje”
• Depois de tanto desgaste por divisões internas, denúncias e omissões, o PSDB tem pouco a comemorar em 2017, não?
Ao menos, o final (convenção nacional) foi de acordo. Não foi um ano difícil somente para o PSDB. Foi para o país também. Não dá para tapar o sol com a peneira. O PSDB não pode dizer que não bebeu daquela água porque houve acusações de desvios de conduta. Mas, diferentemente de outros, são casos isolados. O povo mistura as duas coisas e isso afetou nossa imagem.
• Mas o desgaste do partido não é resultado mais da falta de coragem de tomar providência no caso do senador Aécio Neves, flagrado pedindo R$ 2 milhões a um empresário, do que de uma confusão do povo?
Ele não é mais presidente do partido. Já o Lula continua líder do PT (apesar de já ter sido condenado em primeira instância).
• Esse é o discurso que será usado para reagir ao efeito Aécio, que era presidente até a semana passada?
A conduta equivocada de uma pessoa é diferente de ter um tesoureiro na cadeia ou de um partido organizado para cometer crimes. Isso não temos. Além do que as eleições se movem no Brasil muito mais por pessoas que simbolizam do que pela força dos partidos.
• Isso significa que o PSDB não tem interesse em fazer o debate ético e moral em 2018? Na convenção, houve silêncio sobre o tema.
Falei o que eu podia no meu discurso e disse que é preciso haver autocrítica. Eu desejo que o PSDB faça esse debate.
• O novo presidente do PSDB e pré-candidato ao Planalto, Geraldo Alckmin, não fez nenhuma referência à corrupção ou mea-culpa.
Ele vai ter que falar. Quem for candidato pelo PSDB tem que simbolizar essa bandeira. O PSDB errou mas não foi um erro sistemático. Se o PSDB vai propor, como eu acho que deve, uma sociedade decente, a pessoa que propõe tem que ser decente. A vantagem que o Geraldo tem é que ele simboliza o simples. Isso é importante.
• O julgamento do ex-presidente Lula foi marcado para janeiro. Mesmo se condenado, há incertezas sobre se ele participaria ou não da eleição. Uma decisão da Justiça será suficiente para esclarecer esse quadro?
O TRF tem a responsabilidade de esclarecer ao país se o Lula tem culpa ou não. Não sei, não é minha função julgar o Lula do ponto de vista criminal. Se cometeu ou não crime é a Justiça quem tem que dizer. Ela não pode deixar que o país fique em suspenso sem saber o que vai acontecer. Tem que ser célere. Não acho justo que uma decisão definitiva não seja tomada a tempo da eleição. O Brasil merece que essa questão seja esclarecida até lá.
• O senhor disse que preferia ver o Lula derrotado nas urnas do que preso. Torce por uma absolvição dele?
Fui mal interpretado quando disse isso na convenção. Acharam que eu era contra a prisão do Lula. Quis dizer que é chato ver um ex-presidente na cadeia. Não é meu problema se o Lula cometeu ou não crime e se ele tem ou não que ir para a cadeia. É da Justiça.
• Para o PSDB é melhor uma campanha presidencial com Lula ou sem Lula?
O PSDB não deve basear sua argumentação nisso. É melhor ter uma mensagem ao país capaz de enfrentar quem seja.
• Seu partido busca uma polarização com o PT e Lula, tentando destituir o deputado Jair Bolsonaro dessa posição. Até onde ir para ocupar esse espaço?
O Bolsonaro é ainda uma promessa de ser polo na eleição. Eu sei lá o que vai acontecer com ele se o Lula não for candidato. Já o PSDB, se quiser ser alguma coisa inovadora, não pode representar adesão a valores ultrapassados defendidos pelo Bolsonaro, como bandido bom é bandido morto ou ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
• Que tratamento dará o PSDB ao governo Michel Temer na eleição?
Temos que dizer que ele entrou lá numa circunstância específica e que atuou naquilo que podia. Mas falta a ele confiança para avançar mais.
• Fará um julgamento moral desse governo como faz com o do PT?
Dependerá da conjuntura.
• A conjuntura, no caso, é se ele estará ou não apoiando o presidenciável tucano?
Sabe o que acho? O PMDB vai se fragmentar. O eixo do PMDB é fazer bancada na Câmara. Para isso o que prevalece são as alianças estaduais. Aliança nacional podemos fazer com eles. Aliás, eles já fizeram conosco. Adiantou? Não.
• É decisiva para o PSDB uma coligação com o PMDB para a eleição presidencial pensando no tempo que a sigla tem no horário eleitoral de rádio e TV?
Não acho que seja importante porque nos estados haverá alianças com o PMDB. O PSDB tem tempo suficiente e condição de fazer alianças para ter uma candidatura. Não precisa ficar refém do PMDB. Se entrar em vale tudo, vai perder a eleição por causa da questão moral que existe hoje.
• A reforma da Previdência está empacada. O PSDB fechou questão ontem a favor da reforma, mas sem punição a quem votar contra. É um jogo de cena, não?
Tenho que dizer que há uma manobra para jogar sobre o PSDB a responsabilidade de ganhar ou perder (a votação). O PSDB tem 46 dos 513 deputados. Essa manobra não se sustenta. Sobre a decisão de hoje (ontem), não existe punição possível para esses casos no estatuto de nenhum partido. Se punir, o sujeito vai à Justiça e ganha. Isso é briga fictícia, fazer de conta que fechou questão e está resolvido. Eu sou favorável à reforma para retirar privilégios. Mas não é fácil aprovar.
• O senhor diz que o PSDB precisa se encontrar para ter alguma viabilidade nas urnas. Que caminho vê para o partido?
São três mensagens que precisam ser o foco: restabelecer o crescimento econômico e gerar renda, devolver a ordem e a segurança pública e reduzir a desigualdade social.
• Acredita na possibilidade de escolha do presidenciável do PSDB sem prévia?
Tudo indica que sim (haverá prévia) porque o Arthur (Virgílio, prefeito de Manaus) quer disputar. Tem que respeitar. Previa não é bicho de sete cabeça. Façam a prévia.
• João Doria vem tentando se recompor com lideranças do PSDB para ser candidato a governador. A confiança nele foi abalada com as tentativas para viabilizar-se candidato a presidente?
Ele errou, mas percebeu e corrigiu a postura. Ele próprio notou (que errou). Houve não só dele, mas do seu entorno, a impressão ‘agora vai’. Mas a política é mais complicada. Acho que ele não perdeu a respeitabilidade da população. Popularidade se ganha e se perde.
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