- Folha de S. Paulo
As profecias econômicas de dezembro costumam estar mortas ali pela metade do ano seguinte. Dois terços das previsões de crescimento do PIB erraram o alvo de modo estrambótico, desde 2001. Um erro tão grande quanto tentar passar por uma porta e dar com a cara na parede.
É quase fácil prever 2018, pois: as estatísticas muito provavelmente estarão erradas. Não se trata de avacalhar estimativas econômicas. Convém apenas não exigir desses números o que não podem dizer.
O erro das previsões de crescimento da economia tem sido extravagante, na média de mais ou menos 40%. É o que se depreende da mediana das projeções recolhidas pelo Banco Central no boletim Focus datadas da última semana de dezembro –ou seja, pouco antes de começar o ano para o qual eram feitas essas contas. Esse desvio nem é o pior.
O Banco Central publica também a previsão mais otimista e a mais pessimista dessa centena de economistas e consultorias do setor privado, do "mercado". Desde 2001, em 11 de 16 anos o crescimento de fato da economia não ficou nem nesse intervalo, entre a previsão máxima e a mínima. Extrapolou, ficou fora do radar.
A mediana das previsões para o crescimento do PIB em 2018 é de 2,7%. Na mais otimista, o país cresce 4%; na mais pessimista, 0,9%. Qualquer coisa nesse intervalo não deveria espantar. Talvez não seja improvável até algo um tanto além desses limites, dado o histórico de bolas foras (11 em 16!).
Sem grandes perturbações, 2,7% é a estimativa central. Uma especulação sensata diria que é improvável uma taxa muito maior. Mudanças bruscas no crescimento em geral dependem de variações grandes na taxa de investimento (em novos negócios, construções, equipamentos etc.). Em um país desatinado e sujeito a ser ainda governado por boçais e dementes, empresários tendem a jogar na retranca.
Ainda assim, o futuro é nebuloso. "84 será igual ou pior que 83", dizia a manchete desta Folha no Natal de 1983, o ano em que se completava o pior triênio recessivo do século. O jornal se baseava em pesquisa com empresários. Em 1983, a economia encolheu 2,9%. Mas em 1984 cresceria 5,4%. Até certo ponto, os empresários estavam enganados sobre si mesmos.
Isto posto, não é possível trabalhar sem algum tipo de previsão ou dizer que "pode acontecer qualquer coisa", sem mais. Porém, um tanto quanto pesquisa eleitoral, por analogia, a estimativa econômica diz mais sobre o presente, dado o que aconteceu no passado. Em economia não existe o Sobrenatural de Almeida, como escrevia Nelson Rodrigues em suas crônicas de futebol, mas há o Imponderável da Silva.
Normalmente é possível dar um chute informado e calculado a respeito de quanto o conjunto das empresas deve investir, dados juros, câmbio, gasto do governo, mercado de trabalho, o PIB do ano anterior e o que mais se coloque no caldeirão das bruxas da previsão. Mas as empresas podem reagir de modo anormal, mais animado ou mais defensivo, para trocar em miúdos grossos uma história muito enrolada. Como se não bastasse, ainda há política, conflito social ou manhas da finança do mundo.
Enfim, é possível fazer um esforço de parar com besteiras e convencer o Imponderável da Silva a nos dar uma mãozinha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário