Movimentos pela candidatura de Huck traduzem abalo no PSDB e no sistema político
Cumpridas algumas determinações legais, é direito de qualquer cidadão candidatar-se a um cargo eletivo e —é da regra do jogo que o número de votos obtidos seja, fundamentalmente, o critério definitivo para julgar-se a oportunidade de sua postulação.
Desse ponto de vista abstrato, não há como condenar o fenômeno das candidaturas de celebridades. Nem seria justo dizer que toda pessoa de destaque no mundo dos esportes, do entretenimento ou das artes se equipare em inconsistência política ou falta de qualificações para o posto que disputa.
Há muito de sintomático e de duvidoso, entretanto, nas inclinações que lideranças experientes do mundo político nacional têm manifestado em favor do lançamento do apresentador Luciano Huckao pleito presidencial deste ano.
Sem dúvida, muita coisa pode ser dita de positivo a seu respeito, incluindo o fato de que já se declarou, algumas vezes, indisposto para tamanho desafio.
Huck disse preocupar-se, como cidadão, com a necessidade de um aperfeiçoamento dos costumes públicos —tendo colaborado na louvável iniciativa de criar um fundo que oferece cursos de formação a postulantes de qualquer partido.
Ainda assim, é certo que sua maior credencial no eleitorado se limita à fama de que desfruta como animador televisivo.
Fica a forte impressão de que, acima de tudo, um misto de aventureirismo e desespero orienta a atitude de setores do PSDB, ao aventar o apoio à celebridade.
Rivalidades crônicas no partido sempre fizeram, de resto, que seus candidatos majoritários amargassem o boicote, a maledicência ou a omissão de seus rivais.
Geraldo Alckmin contra Aécio Neves, Aécio contra José Serra, Serra contra Alckmin: um tedioso carrossel de desafetos gira sem parar no PSDB, tendo como eixo caprichoso, umbilical e reluzente a veterana figura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Não é apenas a sensaboria do governador Alckmin, pré-candidato de turno à Presidência, que leva à aposta, nem tão velada assim, no nome de Luciano Huck.
Tudo resulta de anseios não só partidários, mas do sistema político. A desconfiança popular diante de expressiva parcela de seus representantes traz, naturalmente, expectativas de renovação.
É desejável que se ofereçam alternativas fora do círculo das velhas raposas profissionais. Expoentes de todas as áreas, com ampla atuação pública, não faltam.
Candidatos decerto são importantes, mas uma renovação política não prescinde da melhora das práticas e das instituições; atalhos nessa direção são duvidosos.
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