segunda-feira, 2 de abril de 2018

Cida Damasco: Como será o amanhã

- O Estado de S. Paulo

Ameaça de terceira denúncia embaralha quadro eleitoral e pode travar economia

Nos últimos tempos, se na abertura de qualquer semana alguém disser que sabe como ela terminará, certamente estará blefando. O presidente Temer começou a semana passada candidatíssimo à reeleição, chegou à Páscoa sob ameaça de uma terceira denúncia por corrupção e com amigos do peito encarcerados, e amanhece esta segunda-feira tentando retomar o fôlego com uma minirreforma ministerial. O ex-presidente Lula aproveitou o hiato aberto pelo STF até o julgamento do seu pedido de habeas-corpus, pôs o pé na estrada, teve os ônibus da caravana atacados por tiros, e agora está à espera da decisão – ir ou não para a cadeia, após a condenação em segunda instância no TRF. No meio desses dois trilhos, os candidatos já conhecidos se movem em busca de coalizações e apoios e, depois de muitas idas e vindas, vem surgindo mais um “novo”: o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa, vestido com a roupa do dividido PSB.

Quem consegue, nesse quadro, montar um cenário para 2019? Décadas atrás, no Brasil da hiperinflação, executivos de multinacionais costumavam relatar as dificuldades que enfrentavam para explicar às cúpulas das suas matrizes o que acontecia na economia do País e os malabarismos que eram obrigados a fazer para fechar o planejamento estratégico para 5, até 10 anos. Veio a estabilização, o Brasil engatou um novo ciclo de crescimento e esses obstáculos passaram a ser encarados como coisa do passado. Seguiu-se a era PT, os temores de uma ruptura com Lula também foram superados e manteve-se a previsibilidade da economia por um bom período.

Hoje, com uma inflação no fundo do poço e uma atividade econômica se reabilitando depois de uma dramática recessão, mas com um cenário político que muda a cada dia, empresários/executivos tanto de grandes grupos internacionais como locais são de novo postos à prova para projetar o que vai ser do futuro. Não daqui a 10 anos, mas logo ali na esquina de 2018 com 2019. Até três ou quatro dias atrás, os olhos de investidores, empresários do setor produtivo e analistas voltavam-se para a sucessão de Henrique Meirelles no ministério da Fazenda. E para os sinais de blindagem da equipe econômica, numa campanha eleitoral com uma chapa governista Temer/Meirelles, só com Temer ou só com Meirelles.

Nesse sentido, a polêmica em torno das garantias para a concessão de empréstimos de bancos públicos a Estados e municípios, depois de um embate que envolveu TCU, Banco Central e o próprio Planalto, foi lida por parte desses observadores como um sinal de que o governo estaria sensível a pressões para abrir os cofres em ano eleitoral. Especialmente quando se leva em conta que a atividade econômica parece encruada naquele ponto de “retomada lenta”.

A escolha de Eduardo Guardia para ocupar a cadeira do chefe funcionou para reduzir os temores dos mercados de afrouxamento na política econômica: tido como durão e de difícil diálogo com os parlamentares, Guardia é visto nesse território como o homem certo no cargo certo. E na hora certa. No mesmo movimento, o deslocamento de Dyogo de Oliveira do Planejamento para a presidência do BNDES permitiria uma sintonia melhor na equipe econômica, com a vantagem adicional de aproximar o banco do setor privado.

Nesse momento, porém, nem Temer nem Meirelles têm suas posições garantidas no tabuleiro eleitoral. Temer manterá sua candidatura? Meirelles neo-emedebista será arrastado junto ou se transformará numa alternativa dentro do campo governista? O ministro já havia anunciado sua filiação ao MDB no dia 3 de abril e sua saída do cargo no dia 6. O clima não está para festa, mas o roteiro por enquanto está confirmado.

Mais ainda, independentemente da sobrevivência da candidatura à reeleição, há sérias dúvidas quanto ao comportamento de Temer no governo, caso venha uma terceira denúncia – para analistas, a ameaça continua, apesar da liberação dos amigos do presidente. Nas duas anteriores, como se pode lembrar, houve um festival de emendas parlamentares para garantir apoio no Congresso – e deu resultado. Enquanto isso, pautas mais sensíveis, como a da privatização da Eletrobrás, correm o risco de ficar em ponto morto. E a economia? Bem, a economia vai indo. Uma semana depois da outra.

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