Existem motivos concretos para o nervosismo nos mercados mundiais, em especial nas economias ditas emergentes, em que sempre há alguma vulnerabilidade. O crescimento firme da economia americana, na faixa dos 2,5%, com o desemprego no nível de 4%, depois de ter chegado a 10% no governo Obama, garante que a fase de juros muito baixos chega ao fim nos Estados Unidos. Para que a inflação não volte com força.
Como tantas vezes, o dinheiro que gira nos mercados mundiais tende a buscar títulos do Tesouro americano, os mais seguros do mundo, que se tornam ainda mais atrativos com um rendimento mais elevado.
O Brasil já foi apanhado algumas vezes nessas situações, de forma precária: com reservas baixas ou mesmo inexistentes, forçando o país a buscar ajuda no FMI — como acaba de fazer a Argentina —, e com inflação elevada. Agora, o país está entrincheirado com reservas acima de US$ 350 bilhões e inflação na proximidade de 3%, abaixo da meta de 4,5%. Mesmo assim, o dólar, claro, segue a tendência mundial, e pode ter mudado de patamar, para um nível mais elevado. No lado real da economia, os sinais não chegam a desanimar, porém deixam de confirmar previsões feitas na virada do ano de um crescimento mais firme, que se refletiria num movimento mais intenso de geração de empregos. Não é o que acontece. De acordo com o IBGE, em quatro anos o número de pessoas que desistem de procurar emprego, por desalento, cresceu 195%, chegando a 4,6 milhões no primeiro trimestre, um recorde.
Como nas retomadas, a perspectiva de emprego faz as pessoas voltarem a procurar alguma colocação e, assim, pela metodologia estatística, elas voltam a ser contabilizadas como desempregadas. Mas, se a economia está mesmo crescendo, o índice de desemprego cairá em seguida. Isso ainda não se confirmou. E o prognóstico a partir do IBCBr, que procura antecipar o PIB, não é otimista: caiu 0,13% no primeiro trimestre.
No pano de fundo desta espécie de trava no movimento de recuperação da economia está a questão político-eleitoral. A esta altura do ano, a cinco meses das eleições, sem qualquer clareza do cenário, é natural que os agentes econômicos, principalmente empresas com projetos de investimento, se retraiam.
A movimentação dos pré-candidatos também não ajuda a clarear os caminhos da campanha. A agenda de problemas do país é muito conhecida, e nela se destaca o imbróglio fiscal, composto por uma Previdência a caminho da quebra e um Orçamento engessado, sem possibilidade de ser administrado. Neste quadro, o pré-candidato tucano Geraldo Alckmin acertou ao divulgar nomes de sua hipotética equipe econômica, com destaque para Pérsio Arida e Edmar Bacha — egressos dos planos Cruzado e Real. Eles e os demais são conhecidos, por isso ajudam os agentes econômicos a projetarem a gestão do ex-governador de São Paulo. Reduz o nevoeiro, por mais previsível que pudesse ser o pensamento econômico do ex-governador Alckmin.
O tempo da política tem sido mais lento que o da economia, campo em que são necessárias definições as quais pré-candidatos preferem não dar. Com a turbulência na economia mundial, empresários e agentes econômicos em geral assumem posição defensiva, e os negócios padecem.
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