Alta acelerada do dólar leva o BC a interromper queda dos juros e acentuar incertezas no mercado
Provocou compreensível celeuma a decisão do Banco Central de manter inalterada a taxa básica de juros, na quarta-feira (16).
Além de debate entre economistas, a consequência prática imediata da atitude inesperada do BC foi um rearranjo de aplicações financeiras —até então pautadas pela expectativa de uma redução da Selic de 6,5% para 6,25% ao ano.
Tais mudanças nos negócios e as dúvidas restantes sobre os motivos e a estratégia futura da autoridade monetária provocaram desordem no mercado.
Por si só, essa medida produzirá impactos relativamente menores no médio prazo. No que diz respeito ao crescimento econômico, a influência é de todo modo pequena e, neste ano em particular, quase nula, pois o efeito de alterações nos juros demora ao menos seis meses para se fazer sentir.
Dadas a lentidão da retomada da atividade e a inflação abaixo até do piso da meta (3%), seria razoável considerar uma extensão da ofensiva de cortes da Selic.
Para o BC, no entanto, a recente alta das cotações do dólar, acelerada e por ora sem limite previsível, pode elevar os preços.
É de fato complexo avaliar no momento quais os riscos dominantes —se o de estagnação econômica ou o de inflação impulsionada pela desvalorização do real. Não parece possível condenar, sem mais, a atitude de prudência.
O fortalecimento da moeda americana é um fenômeno de escala global, acentuado no Brasil por fragilidades domésticas.
Há incerteza sobre o futuro da política econômica no próximo governo, que terá de enfrentar a crise orçamentária assim que tomar posse —problema que se tornou ainda mais grave com o fracasso de reformas como a da Previdência.
No curtíssimo prazo, não há muito o que o BC possa fazer quanto ao câmbio, fora ampliar intervenções no mercado e corrigir as falhas em sua comunicação. Foi o que se tentou nesta sexta (18).
Em comunicado, o órgão informou que ofertará mais contratos para investidores que desejam se proteger do risco de variações do dólar. Também manifestou o entendimento de que os efeitos da desvalorização do real na inflação serão mitigados pela ociosidade econômica ainda elevada no país.
Além de paliativos, é difícil enxergar alternativas. Congresso e governo foram complacentes com os perigos do rombo orçamentário, autorizando gastos indevidos, concedendo perdões de dívidas e, pior, colocando em segundo plano a agenda reformista.
Contava-se com a ajuda do cenário internacional, que já se mostra bem menos favorável. Sem perspectiva palpável de articulação no Legislativo, a decisão mais importante para a política econômica será tomada em outubro, nas urnas.
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