Ex-prefeito intensifica movimento para lançar-se na disputa ao Palácio da Guanabara
Thiago Prado | O Globo
RIO —Filiado ao DEM desde o mês passado, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes está intensificando os movimentos nos bastidores para lançar-se candidato ao governo do estado. Na próxima segunda-feira, um jantar marcado na residência oficial do presidente da Câmara, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM), com a presença de dezenas de prefeitos fluminenses, promete ser o pontapé inicial de uma pré-campanha que só não saiu do papel ainda por uma estratégia do próprio Paes. Embora o ex-prefeito se recuse a admitir publicamente que já aceitou entrar na disputa, seus movimentos recentes apontam claramente para o Palácio Guanabara. O GLOBO apurou que o DEM planeja anunciá-lo em junho como o nome do partido para a disputa.
As articulações esquentaram este mês. No início de maio, Paes encontrou-se com o deputado federal Indio da Costa (PSD), outro pré-candidato ao governo do Rio. Na conversa sobre o cenário eleitoral, Paes propôs que os dois caminhassem juntos este ano e em 2020. Pelo arranjo, Indio retiraria sua candidatura e, em troca, teria o apoio do ex-peemedebista na disputa pela sucessão de Marcelo Crivella daqui a dois anos. A conversa não teve sucesso, mas o grupo ligado ao ex-prefeito ainda acha possível costurar em Brasília um acordo para o PSD deslocar Indio para a corrida ao Senado. Os aliados de Paes dizem querer evitar a divisão de partidos de centro que ocorreu em 2016, quando Marcelo Crivella (PRB) venceu a eleição após PSD, PMDB e PSDB lançarem, respectivamente, Indio, Pedro Paulo e Carlos Roberto Osório.
— Zero chance de eu retirar a candidatura — afirma Indio, que diz ter aval do presidente do PSD, o ministro Gilberto Kassab, para ir até o fim na disputa pelo governo do Rio.
Para o jantar da próxima segunda-feira, em Brasília, quase todos os prefeitos dos 92 municípios do Rio foram convidados. Ficaram de fora apenas aqueles ligados ao ex-governador Anthony Garotinho (PRP), que também afirma querer se candidatar ao Guanabara. Embora o ex-prefeito tenha criado a rotina de receber políticos nos fins de semana em um imóvel alugado em São Conrado, está delegada a Rodrigo Maia toda a articulação política das alianças que a candidatura Paes poderá ter no Rio. O presidente da Câmara costura o apoio de várias siglas, entre elas PP, PR e Solidariedade. O PTB de Roberto Jefferson já garantiu que estará ao lado do ex-prefeito.
— Ele (Maia) está assumindo o papel que Jorge Picciani teve durante muitos anos no estado — afirma um aliado de Paes.
O mês de maio foi farto em boas notícias para Paes. No dia 3, o ex-técnico da seleção de vôlei Bernardinho (Novo) anunciou sua desistência de participar das eleições. Caso fosse uma opção nas urnas, ele poderia abocanhar votos em redutos eleitorais de Paes. Além disso, uma liminar do Tribunal Superior Eleitoral derrubou uma decisão que tornava o ex-prefeito inelegível por oito anos. Agora, para entrar de vez na campanha, Paes aguarda o fim do seu contrato com a empresa chinesa BYD, que fabrica carros elétricos.
O ex-prefeito também espera os rumos da operação Lava-Jato no Rio. Ontem, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o inquérito aberto com base na delação da Odebrecht para investigar Pedro Paulo e o ex-prefeito seja enviado para a Justiça Federal fluminense. Dodge não especificou para qual vara quer que o caso seja enviado. Se cair na 7ª, será comandada pelo juiz Marcelo Bretas, responsável pela prisão de Sérgio Cabral e outros antigos aliados de Paes no MDB fluminense.
Duas questões ainda permanecem indefinidas no quadro eleitoral do Rio. A principal delas, se o senador Romário (Podemos) será mesmo candidato a governador. Ele tem percorrido cidades de todo o estado para empossar dirigentes do seu partido e aparece como primeiro colocado em pesquisas internas que circulam no mundo político fluminense. Mesmo assim, ninguém ainda é capaz de ter certeza sobre que rumo Romário tomará. Em 2014 e 2016, a mesma especulação de uma candidatura ao Executivo veio à tona, mas o ex-jogador desistiu da corrida eleitoral às vésperas das convenções partidárias. Agora, como Álvaro Dias precisa de um palanque no Rio, espera-se que Romário acabe obrigado a obedecer a missão partidária. Em conversa esta semana com Indio da Costa, o senador reafirmou, mais uma vez, que desta vez não desistirá da disputa.
Outra incógnita refere-se à situação do ex-governador Anthony Garotinho (PRP). Ele tem jurado que quer concorrer pela sucessão de Luiz Fernando Pezão (MDB). Aliados, no entanto, acham que ele deve recuar pois está em um partido sem recursos. Além disso, depois de duas prisões no ano passado, a família de Garotinho defende que ele busque um mandato parlamentar para ter mais proteção — ainda que as regras para o foro privilegiado no Brasil não sejam mais as mesmas desde o novo entendimento do Supremo. Uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio seria uma das opções.
Internamente, Paes tem avaliado que um candidato que provavelmente ainda subirá muito nas pesquisas é o vereador Tarcísio Motta (PSOL). Ele acredita que o psolista tem potencial para crescer na onda da comoção pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, do mesmo partido. Por ora, também no campo da esquerda, o PT cogita lançar o ex-ministro Celso Amorim.
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