Empresários ricos são cobiçados por políticos, após mudança nas regras de financiamento
Bruno Góes / Catarina Alencastro | O Globo
BRASÍLIA — Antes de passar a ser cogitado como candidato a presidente da República — o “outsider” da vez, em articulações do bloco dos partidos de Centro —, o nome do empresário Josué Alencar, já estava no tabuleiro da sucessão presidencial desde que ele se filiara ao PR. Ele vinha sendo cortejado como “vice dos sonhos” tanto pelo pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, como pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia procurado o presidente da Coteminas numa tentativa de reeditar a chapa vitoriosa nas eleições presidenciais de 2002 e 2006 formada com o pai do empresário, José Alencar. Josué Alencar vinha sendo cobiçado também por políticos mineiros atrás de alianças locais.
Tanto assédio, segundo os críticos de Josué, só tem uma explicação: dinheiro. As mudanças nas regras de financiamento eleitoral fizeram com que empresários ricos passassem a ser disputados pelos partidos. Como os arranjos com empreiteiras se tornaram mais difíceis, políticos endinheirados surgem como uma solução fácil para o problema de caixa criado pela nova lei eleitoral. Em 2014, quando foi candidato ao Senado em Minas Gerais, Josué declarou patrimônio de R$ 96 milhões —– este seria, segundo alguns políticos, seu maior predicado eleitoral.
— O Josué está sendo muito cortejado, apesar do conteúdo político zero dele. Qual predicado que o Josué tem além de ser filho do José Alencar? Nenhum. Ele só é rico. Eu defendo o limite no autofinanciamento porque senão vai continuar tendo Josués, Dórias, Flávios. É gente que vai se impor na política pelo dinheiro — critica o líder do PSB na Câmara, deputado Júlio Delgado (MG).
O partido de Delgado entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar fixar um limite ao autofinanciamento. Pelas regras atuais, quem tiver recursos pode financiar integralmente a campanha. A lei fixa apenas um limite máximo de gastos para cada cargo. Para a disputa presidencial, o teto é de R$ 70 milhões.
Assim como Josué, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que quer ser o candidato do MDB a presidente, é autossuficiente no quesito dinheiro. Antes de assumir a Fazenda, Meirelles, apenas em 2016, lucrou R$ 217 milhões com consultoria para grandes empresas. Diferentemente dos candidatos menos abastados, ele não estará à mercê do partido na definição da distribuição dos recursos dos fundos partidário e eleitoral.
Meirelles anunciou que pretende bancar sua campanha com o próprio bolso e disse a interlocutores que deve gastar pelo menos R$ 5 milhões só na fase de pré- campanha. Aos 72 anos, ele vê o ano de 2018 como a última chance de realizar o seu maior objetivo na vida pública: chegar ao Planalto. Meirelles está tendo reuniões com as bancadas de deputados e senadores e dirigentes estaduais para angariar aliados no partido para a sua pretensão. A possibilidade de ele sair candidato passou a ser bem vista por grande parte da bancada do PMDB na Câmara. Com uma campanha presidencial custeada por recursos próprios, sobraria mais dinheiro do fundo eleitoral para a disputa de parlamentares da própria reeleição.
O presidenciável Flávio Rocha (PRB), dono da Riachuelo, é outro pronto para abrir suas vultosas contas pessoais para bancar a campanha. Detentor de uma fortuna avaliada em R$ 1,3 bilhão, ele já avisou que não precisará de dinheiro do fundo público.
— Ele externou que pode custear a campanha. Quando me perguntou quanto podia gastar, respondi que seria o teto que já está estabelecido pela lei. E aí já não se falou mais no assunto. Estava decidido — contou ao GLOBO o presidente do PRB, Marcos Pereira.
Outro nome em cogitação para compor uma aliança eleitoral como vice, Flávio Rocha rechaça a hipótese:
— Não tenho vocação para ser vice, tenho certeza de que ainda vou crescer.
Apesar disso, o PRB já iniciou conversas com lideranças de outros partidos visando à campanha presidencial. Caso não decole nas pesquisas até julho, Flávio Rocha pode entrar numa composição como vice de outro candidato de centro.
— Tem uma brincadeira que diz que vice que tem tempo de TV vale. Se não, tem que ter voto ou tem que ter dinheiro — resume o ex-ministro Helder Barbalho, que tentará se eleger governador do Pará.
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