Por André Ramalho, Juliana Schincariol e Ivan Ryngelblum | Valor Econômico
RIO E SÃO PAULO - O presidente da Petrobras, Pedro Parente, reforçou que a empresa manterá sua política de preços de combustíveis e que, se o governo quiser praticar subsídios, terá que reembolsar a companhia, como previsto no estatuto social da petroleira. O executivo afirmou que não houve qualquer interferência do Palácio do Planalto na decisão da empresa de reduzir em 10% e congelar os preços do diesel por 15 dias e que, se um dia ela acontecer, o governo precisará buscar uma nova direção para a estatal.
"Se por qualquer razão a Petrobras enfrentar uma situação onde não será possível fazer isso [política de preços]... O governo precisará buscar uma nova direção que seja alinhada a essa decisão. Mas quero reforçar que não vejo o governo fazendo algo que consideraria esse tipo de coisa", disse.
A mensagem foi dada por Parente em teleconferência com investidores, enquanto as ações da empresa caíam na casa dos dois dígitos, ontem. O executivo tentou tranquilizar o mercado, ao descartar mudanças na frequência dos reajustes. Ele disse que o congelamento dos preços do diesel se deu numa "situação excepcional" e destacou que a empresa continuará operando com fluxo de caixa livre positivo e com foco em redução da dívida.
A perda de receitas estimada pela companhia com o congelamento dos preços é de R$ 350 milhões. Pesou na decisão da diretoria o impacto que a continuidade da greve dos caminhoneiros poderia trazer sobre as operações da petroleira.
O UBS, no entanto, acredita que o principal impacto não será financeiro. Para o banco, o congelamento dos preços deve provocar um aumento na percepção de risco da Petrobras no mercado. Já o Santander destaca que a redução pode abrir precedentes para novas mudanças toda vez que houver pressão externa. Para os analistas Christian Audi e Gustavo Allevato, a medida pode também prejudicar o processo de venda das refinarias da companhia. "A continuidade da implementação da política de preços dos combustíveis é chave para atrair potenciais compradores para as participações em refinarias", afirma o relatório.
O Valor apurou que o clima na reunião do conselho que discutiu a decisão da diretoria, de quarta-feira, era de tensão. Segundo uma fonte, a reunião foi a mais tensa desde o debate sobre a privatização ou não da BR Distribuidora.
Entre os integrantes do conselho, houve quem concordasse com Parente. O executivo classificou o congelamento dos preços, pelo prazo de 15 dias, como uma "trégua" e gesto de "boa vontade" para que o governo e os caminhoneiros conseguissem chegar a um entendimento, dada a situação de gravidade da paralisação. Alguns conselheiros, no entanto, veem como um erro a decisão da empresa de assumir uma responsabilidade de articulação que cabe ao governo.
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