- Folha de S. Paulo
Governo dá alívio nas bombas a um setor específico, mas terá que bancar prejuízo
“Não estamos debatendo imposto da indústria. Estamos debatendo o imposto que está sobre as costas do povo brasileiro”, declarou um sensível Paulo Skaf em setembro de 2015, quando a Fiesp lançou o pato de borracha gigante que se tornou ícone da campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff.
A federação das indústrias brigava, na verdade, para reduzir a carga tributária e aumentar o lucro dos produtores. Pegou carona no sentimento de repúdio a um governo ineficiente para conquistar apoio nas ruas.
A astúcia de movimentos liderados por empresários é que, via de regra, eles cobram privilégios para setores específicos, ainda que alguns benefícios sejam coletivos. A indústria se escora há décadas no tratamento diferenciado que recebe do Estado. Na paralisação dos caminhoneiros, as transportadoras também conquistaram regalias.
A greve nas estradas, que provocou desabastecimento e teve impactoindireto sobre todo o país, tem características de um movimento estimulado pelos patrões —um locaute. Os donos das empresas de transporte se recusaram a bancar o frete mais caro devido à subida dos preços dos combustíveis, dando fôlego à paralisação dos motoristas.
Embora a população revoltada com o aumento da gasolina tenha apoiado a manifestação, os líderes do movimento negociaram um alívio exclusivo: a redução do preço do diesel que abastece seus veículos.
Com o acordo, a vida voltará ao normal, mas todos pagarão o pato. Sob pressão dos caminhoneiros e sob aperto orçamentário, o governo foi obrigado a tomar medidas improvisadas. Dará um alívio nas bombas, mas precisará encontrar dinheiro para cobrir a perda de receita e os prejuízos da Petrobras com a operação.
A redução de impostos é tradicionalmente uma pauta liberal, mas sob forma de chantagem ela jamais leva a uma diminuição do peso do Estado, que deveria ser seu objetivo. O episódio atual reforça vícios antigos. É um remendo que precisará ser enfrentado pelo próximo governo.
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