Por Fabio Murakawa e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - Em meio à crise disparada pela alta dos preços dos combustíveis, senadores atacaram ontem o presidente da Petrobras, Pedro Parente, pedindo a sua demissão. O presidente Michel Temer, entretanto, vem articulando o tempo todo uma solução para a crise com o executivo. E, até o início da noite de ontem, não cogitava retirá-lo do posto.
Os ataques mais duros a Parente no Senado foram desferidos pelo primeiro vice-presidente da Casa, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que chegou a dizer que o executivo age com "arrogância", ao se recusar a alterar a política de preços da companhia.
"A Petrobras é uma empresa importante? É. Mas a Petrobras não é maior do que o Brasil, nem tampouco os objetivos do presidente da empresa, Pedro Parente, são maiores do que a própria Petrobras", disse Cunha Lima à tarde, no plenário do Senado. "A arrogância com que o presidente da Petrobras se dirigiu ao país não pode ser acatada. Não é possível, diante de um País derretendo como o nosso, simplesmente achar que a posição técnica de um burocrata é maior do que os interesses nacionais."
José Maranhão (MDB-PB) disse que Parente elaborou uma política "contrária aos interesses do país". E afirmou que não existe "um diretor da Petrobras com poderes absolutos que se sobrepõe ao poder do dono da empresa", o governo.
"O senhor Pedro Parente - não sei de quem; do Brasil é que não é -, não sei com que ânimo, se arvora de absolutamente autônomo para adotar uma política contrária aos interesses nacionais", afirmou Maranhão, fazendo trocadilho com o nome do executivo.
Já Ana Amélia (PP-RS) classificou Parente como "insensível" e sugeriu que ele pedisse "o boné".
Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse que a demissão de Parente é um problema do governo e que o executivo "não é dono da Petrobras": "A Petrobras é uma empresa estratégica para o Brasil, o maior acionista é o Estado, e o governo tem que interferir nessa administração da Petrobras."
Preocupado com a paralisação, Temer iniciou no mesmo dia as articulações políticas para uma ação conjunta com a Petrobras a fim de conter a alta dos combustíveis.
A iniciativa desembocou na decisão da estatal de suspender provisoriamente a política de reajuste, estabelecendo a redução em 10% do preço do diesel e o seu congelamento por 15 dias.
Já na segunda-feira o presidente conversou com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia) sobre a necessidade de ser convocar uma "reunião de emergência" com o presidente da Petrobras. O encontro entre Parente, Moreira e o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia ocorreu na terça-feira pela manhã.
Na conversa, os ministros defenderam a necessidade de dar mais previsibilidade às variações de preços dos combustíveis. Alegaram que era necessário um "ato de responsabilidade" tanto do governo quanto da companhia para conter a alta dos preços do diesel e contribuir para que os caminhoneiros encerrassem a greve, suspensa ontem por 15 dias. Depois disso, os três selaram o compromisso de buscar uma solução conjunta. Ao sair da reunião, Parente afirmou que a política de reajustes da estatal não seria alterada.
O governo decidiu dar o primeiro passo e sugeriu a eliminação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) que incide sobre o diesel - o que representaria um desconto de R$ 0,05 no preço do litro -, caso o Congresso Nacional aprovasse o projeto de reoneração da folha de pagamentos como forma de compensar a arrecadação. A medida, porém, foi classificada como "insuficiente" pelos caminhoneiros.
Com a resistência da categoria, o governo deu aval para que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o relator do projeto de reoneração, Orlando Silva (PCdoB-SP), incluíssem no texto a eliminação do PIS/Cofins sobre o diesel até 31 de dezembro, o que levaria a uma redução de R$ 0,23 no litro do combustível.
Sem a garantia dos caminhoneiros de que as duas medidas acarretariam no encerramento da greve, o governo voltou a pressionar Parente por uma medida encabeçada pela Petrobras. Ontem, durante coletiva no Planalto, antes de anunciar a suspensão da paralisação por 15 dias, Padilha afirmou que Temer pediu que a estatal encontrasse uma solução, mas ponderou que isso não representava uma intervenção governista na companhia. Na entrevista, o titular da Casa Civil negou que Parente corria o risco de perder o cargo caso não atendesse ao pedido do Planalto, mas destacou que o cargo do presidente da Petrobras é "de confiança" do presidente da República.
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